segunda-feira, 29 de junho de 2009

A Droga


Foto: Junior Santos

Esses dias, conversando com um amigo, delegado da Polícia Civil, ouvi um depoimento que me deixou preocupado. Ele relatava, em tom de desabafo, as dificuldades de combater as drogas, falando que cada vez mais o aparato policial é amordaçado e o tráfico de entorpecentes se prolifera de forma cruel e descontrolada. O Dr. Denys Carvalho, da Delegacia de Narcóticos de Mossoró, dizia: - Fazer o quê, se prendemos o usuário e a sua pena é a frequência a alguma clínica de tratamento, que o mesmo vai a uma sessão e nunca mais põe os pés lá. No outro dia está na rua saciando seu vício abertamente, sem nenhum receio. Com o advento da lei 11.343/2006, as únicas penas previstas no seu artigo 28 são: 1) Advertência sobre os efeitos das drogas; 2 ) Prestação de serviço a comunidade e 3) Medida educativa de comparecimento a programa ou curso.

Eu até aceito (em parte) que a droga é uma doença (voluntária) e como tal deve ser tratada, mas, fazer o quê com aqueles que não aceitam tratamento, nem ajuda? Condenar a sua família e a sociedade às sequelas e aos efeitos colaterais do vício?

Mais a frente, no decorrer da conversa, ele me confidencia que, em decorrência do seu ofício, já tinha presenciado muita coisa aterrorizante e isso, de certa forma, deixava o policial meio frio, insensível a situações vivenciadas, que normalmente tocaria qualquer um que não seja acostumado a testemunhá-las. Porém, recentemente tinha participado de uma missão que o tinha deixado chocado e a cena custava a sair da sua mente. Em uma investigação a uma "boca de fumo", quando da prisão de um casal de traficantes, presenciou uma criança de 8 anos se dirigindo ao local, provavelmente para comprar crack. Numa idade em que o desejo de consumo deveria ser uma bicicleta ou um outro briquedo sonhado, a droga, provavelmente, já fazia parde da vida (ou já tinha acabado com a vida) dessa criança. Será que mesmo na mente doentia de um criminoso não resta uma única gota de escrúpulo? Uma criança de 8 anos...???

Para encurtar a história, o casal de traficantes se encontra preso, cumprindo pena, pois já respondiam por outros delitos. Quanto a criança, é bem possível que tenha encontrado um outro fornecedor e esteja dando continuidade ao processo de autodestruição. Mas o danado é que o que martelava a mente do experiente delegado, acabou contaminando a minha: - Uma criança de 8 anos...??? (Sem palavras...)

A Droga

Escravizando a alma
Desassossega a família
O que era uma ilha
De tranquilidade e calma
Se transforma numa jaula
De tortura intermitente
Condenando o dependente
E quem estiver envolto
Naufragando em mar revolto
Nadando contra a corrente

Impiedosa e inclemente
A droga segue sua sina
Aniquila e extermina
Destroça qualquer vivente
Se o silêncio está presente
Então ela deita e rola
Quem pisar nela se atola
É difícil de escapar
Se o cabra não se cuidar
Ela mata e esfola

Com o apoio da escola
E enfrentando o problema
Com dedicação extrema
Todos na mesma bitola
Marcando firme, na cola
Sem dar sopa pra o azar
Hão de logo derrotar
Atuando, sem preguiça
Conselho, pais e a justiça
Terão que muito suar

Não se pode aceitar
Esse perigo, tão grande
Senão, logo ele se expande
Para tudo dominar
Se o cidadão relaxar
Então tudo está perdido
Se a cobra tiver mordido
Prefiro ficar sem soro
Que ver o maior tesouro
Pelo vício consumido

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

terça-feira, 23 de junho de 2009

Obstáculo - Duas Faces



Fotos: Canindé Soares (http://www.canindesoares.com/)


Dificuldades na vida
Todo mundo vai passar
O obstáculo é
A porta para entrar
Em um local desejado
Seleto e reservado
Para quem quiser ousar

O que parece um fosso
É onde fará a ponte
Onde impera a aridez
Pra lá, transporá a fonte
Nada de armar a rede
Só pare, se tiver sede
Com o sol no horizonte

O ar que destelha a casa
Também move o cata-vento
A mesma água que inunda
Põe fim ao maior tormento
O sol que nos debilita
É o que possibilita
Produzir o alimento

A enxada que arrebenta
Até couro encaliçado
É a que cuida tão bem
Do mais próspero roçado
Mesmo maltratando a mão
Deixa o corpo nobre e são
Com o dever realizado

O que parece uma grota
É o início da escalada
O temor de uma seca
Valoriza a invernada
Dificuldade existe
Nada ajuda, ficar triste
Se a carga tá pesada

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

sábado, 20 de junho de 2009

Festa Junina



Ao chegar o mês de junho
O Nordeste se revela
Ornamentando-se, todo
Na beleza mais singela
Quando a sua própria cara
Com si mesmo se depara
Na sua festa mais bela

Pelos seus santos patronos
Alimenta devoção
Santo Antônio e São Pedro
Aliados a São João
Abençoando a fartura
Reforçando a bravura
De quem vive no sertão

A zabumba e o triângulo
Junto com a concertina
Fazem a trilha sonora
Que o sertanejo sublima
Xaxado, xote e baião
Legado de Gonzagão
A noite inteira anima

As brincadeiras noturnas
Tem seu cume, na quadrilha
No casamento matuto
Não só a noiva, é quem brilha
Todo mundo se diverte
Não há quem fique inerte
Nessa festa de família

Cada fogueira acesa
Sinal de veneração
Tem na sua labareda
O calor do coração
Que consola quem padece
E na noite fria, aquece
Dando luz à escuridão

O milho faz o papel
Que o trigo, santo, permeia
A pamonha e a canjica
Que é comungada na ceia
Clamam a humanidade
Ter a generosidade
Que Jesus Cristo semeia

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Luiza Gabriela



Luiza declamando o poema "Declaração de Amor da Pedra do Avião por Gargalheira", quando das comemorações do cinquentenário do açude (Foto: Vídeo Foto Galvão).


Minha homenagem a minha filha Luiza, que hoje aniversaria.

Luiza Gabriela

A estrela que mais brilha
Cintila no teu olhar
O encanto em ti repousa
Resplandece em nosso lar
A grandeza da tu'alma
Não canso de contemplar

Tem bem mais que uma amiga
Quem orbita no teu ser
A áurea que te rodeia
Apascenta meu viver
Quando distante de ti
É triste meu padecer

Difícil caminhar junto
Sinceridade e beleza
Como em ti se conjuga
Uma frágil fortaleza
Capaz de enfrentar tudo
Com desprendida nobreza

Apegada a seus princípios
Mesmo quando, em dissabores
Uma fiel criatura
Revestida de valores
Revela sua conduta
Sempre ungida de louvores

Se pudesse resumi-la
A uma tênue verdade
Expressa numa palavra
Com a sua identidade
Diria, que essa menina
Espelha a simplicidade

Doaria todo o sangue
Que do meu peito esvai
Oferecendo a Deus
Ao amor que nos atrai
Em prova de gratidão
À honra de ser teu pai

O doce da tua voz
Suave como a brisa
Seu caráter decidido
Tem a postura precisa
Da criatura de luz
Cuja a graça é Luiza

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Tempo


Foto: Vídeo Foto Galvão - Acari (RN)

A bela foto postada, de autoria de Dedé de Seu Milton Fotógrafo, não tem nada a ver com o poema. Na realidade é só para atender a um pedido que recebi, por email, de um outro Milton: o amigo cruzetense Milton Simão. Ele reivindica: "...estou sentindo falta de suas reportagens/poemas. Já virou paisagem aquela cara de quem vai e foi examinado pelo lado sul, postada em seu blog. Tire-a, por favor. Deixe as serras e os pássaros." Portanto, o objetivo da foto é, tão somente, tornar a "cara" menos visível.

Tempo

Tempo, senhor da verdade
É um carrasco cruel
Aos pouquinhos, tira o mel
E o vigor da mocidade
Inimigo da vaidade
Quando a idade acelera
O que agora exubera
No futuro se defasa
Onde outrora foi casa
Hoje jaz uma tapera

Toda tecnologia
Será logo ultrapassada
Sendo desconsiderada
Em um passe de magia
O que hoje principia
Mais à frente, não impera
O futuro não tolera
Pois o desuso empraza
Onde outrora foi casa
Hoje jaz uma tapera

Quem pensa que é imortal
E se mantém orgulhoso
Achando-se poderoso
No apego material
Nunca vê nenhum sinal
Que o tempo pra ele gera
Indicando que esta era
Passa logo e não atrasa
Onde outrora foi casa
Hoje jaz uma tapera

Conformação não terá
Quem adora a si mesmo
Caminhará só, a esmo
Quando seu tempo passar
O baque que levará
Quem o presente venera
Se não mata, desespera
A auto-estima arrasa
Onde outrora foi casa
Hoje jaz uma tapera

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

terça-feira, 2 de junho de 2009

Conduta Vedada



O poema abaixo é apenas uma ficção: um script de um filme de terror que passa na mente de todo pai de família, quando chega a sua hora de ir ao proctologista. Minha hora ainda não chegou.

Por mais que a situação seja constrangedora, não há justificativas para não fazer o exame. O câncer de próstata mata muito mais que se imagina e os seus principais aliados são o preconceito e a desinformação.

Curável quando detectada no início, essa doença atinge 8% dos homens com mais de 50 anos (algumas pesquisas indicam até 17%), que, caso não receba tratamento adequado e tempestivo, pode se espalhar para outras partes do corpo (metástases), tornando-se incurável.

Conduta Vedada

Em certa fase da vida
O respeito é um bem sagrado
Não pode ser profanado
De uma forma descabida
É hora de ser banida
Essa conduta vedada
Ter a honra profanada
Machuca o pai de família
Com tanta gente em Brasília
Merecendo essa dedada

Já bem na hora marcada
E eu aqui na espera
Para enfrentar a fera
Tal qual uma alma penada
Com a mente abalada
E com contrariedade:
É uma grande atrocidade
Me botar nesse papel
Com um requinte cruel
Pra um sujeito, nessa idade

É infinita maldade
Esse corredor da morte
Que meu coração suporte
Essa desumanidade
Mas se na realidade
Isso for para o meu bem
Preconceito não convém
Para que a sorte não mude
Fico com minha saúde
Prefiro dizer amém

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

PS: Com relação ao poema "Acauã", gostaria de esclarecer que, quando digo "...sentenciada e presa..." não me refiro à gaiola ou cativeiro. Na realidade se trata de sentido figurado do aprisionamento na fama de agourenta. Não tenho conhecimento da criação doméstica da ave, nem foi esse o sentido das minhas palavras.