quinta-feira, 30 de julho de 2009

Festa da Padroeira


Convite da Festa de Nsa Sra da Guia de 2008 - Imagem intacta, sem mutilações.

No ano passado (2008), já no finalzinho de julho, vésperas da Festa de Agosto, mandei um email para o amigo Jesus de Miúdo. Naquela ocasião, o email foi por ele publicado em seu blog (Link da postagem original: http://acaridomeuamor.nafoto.net/photo20080729182731.html).

Como uma nova Festa de Agosto se aproxima, replico neste espaço a postagem mencionada, em que eu me referia a um livro que até hoje não canso de eventualmente folhear.

Desejo a todos os acarienses e devotos de Nossa Sra da Guia, uma boa Festa de Agosto, clamando por um pouco de respeito mútou entre conterrâneos. Julgo que a ocasião é sempre oportuna. Acari precisa de um pouco de paz e todos são responsáveis por ela. Se cada um fizer a sua parte e der um passo a frente, a distância se encurta e é possível alçançar a mão da pessoa que você alimenta mágoa, para um aperto.

Segue, abaixo, o conteúdo do email/postagem:

Estou terminando de ler, quase de uma pegada só, uma preciosidade que encontrei este final de semana em uma livraria local. Falo de um livro que deveria estar na cabeceira de todos os seridoenses. A obra-prima é “Velhos Costumes do Meu Sertão” de Juvenal Lamartine (*1874 +1956). Em 1954, já cego e afastado da vida pública, Juvenal passou a escrever, secretariado pelo neto que estivesse desocupado, para o jornal Tribuna do Norte. Essas matérias foram posteriormente condensadas nesse livro que é um retrato fiel do nosso passado, com grande semelhança com o presente.

O desenvolvimento, a interação e a miscigenação cultural, a alteração na valoração das coisas e dos costumes, provocaram grandes mudanças no dia-a-dia do sertanejo. Mas a essência permanece. A hospitalidade, a mesa farta, a busca pelo conhecimento, a obediência e respeito aos progenitores e muitas outras características seculares do seridoense, mudaram de forma, mas não de essência.

Achei interessante o trecho abaixo, no capítulo onde são abordadas as festas religiosas e populares, porque parece que neste caso não sofreu alteração alguma:

A festa religiosa de maior importância naqueles sertões era a da padroeira. Constava de nove noites de novena e da missa cantada com sermão no dia de seu encerramento. As novenas terminavam com fogos de artifício e girândolas de foguetões, dependendo a abundância desses fogos da liberalidade dos encarregados de cada noite festiva
Na sede da freguesia, abriam-se as “casas da rua” , onde ficavam seus proprietários, ou seja, os fazendeiros com suas famílias. As mulheres se valiam daqueles dias para exibirem as suas melhores “toilettes” e jóias de mais elevado valor. Na oportunidade da menor distância, os fazendeiros e suas famílias trocavam visitas, estreitando as relações de amizade e parentesco. Na última noite da festa, promoviam os rapazes um grande baile, onde habitualmente nasciam namoros e noivados, entrelaçando as velhas famílias sertanejas. O costume tem sobrevivido. A festa da padroeira ainda representa o ponto alto dos festejos sertanejos, modificada naturalmente pelos elementos da civilização – automóveis e a energia elétrica.

A diferença mais sensível é que ao invés de uma predominância na mudança das fazendas para a sede da freguesia, hoje ocorre a mudança de outras freguesias (já que a nação seridoense hoje está espalhada por todo o territorial nacional) para a sede dos festejos. Nossas “fazendas” de hoje são os ofícios diversos que a vida nos reservou e que em tempos de festa, abandonamos para comungar de momentos únicos de religiosidade e congraçamento.

Imagem Mutilada



Esta semana tomei conhecimento de mais um capítulo da insana disputa política que corroi Acari. Pelo jeito, a campanha eleitoral ainda não acabou e vai se estender, ao menos, pelos próximos 4 anos, com o agravante de não haver mais nenhuma limitação de escrúpulos. Dessa vez foram transpostas as últimas barreiras da educação e respeito às pessoas, com o ataque aos seus valores e a sua religião. Imagino que a pratica de atos impensados tenha chegado ao cume. Ou ainda não chegou? Será que é possível que se cometa uma afronta moral maior que a profanação da religião? Será que há algo nesse mundo que justifique a ridicularização de uma imagem que representa a fé, desrespeitando a crença de toda uma população de fieis?

Elaborar o convite da festa, trocando o padrão de letras, pelo padrão do símbolo da campanha de Garibaldi (G), já foi um abuso. Agora, retirar a estrela de Nossa Sra da Guia e amputar o seu dedo indicador, para dar destaque ao polegar erquido, foi uma agressão sem par. Não é simplesmente um ataque à uma outra corrente política. É uma agressão a todo um povo e a sua religiosidade. Não consigo entender como uma mente insana tem a "genialidade" de criar algo tão sem propósito como o que foi feito. Será que realmente quem tramou isso acha que ganhará algum voto? O mentor intelectual com certeza é o mais perfeito idiota, mas não é burro. Sabe que, quando muito, vai conseguir conquistar a simpatia de um ou outro pagão que sofre da mesma patologia espiritual dele.

O indivíduo assexuado certamente é cria de si mesmo, por isso lhe falta o valor mais básico do ser humano, que é o respeito a figura materna. O pior é que provavelmente quem praticou tal profanação provavelmente vai dizer que tudo não passou de uma falha da gráfica. Ou melhor, duas falhas da gráfica. Duas não, três falhas da gráfica. Onde sobra disposição para arquitetar uma bestialidade como essa, falta coragem para assumir. Provavelmente vai justificar dizendo que a estrela guia, principal característica dessa imagem de Maria, estava borrada e a gráfica resolveu retirá-la, assim como amputou o dedo indicador da imagem. Por conta própria, também, a gráfica, "coincidentemente", se utilizou do mesmo padrão de letras do símbolo de campanha de Garibaldi. É bem provável até, que a gráfica seja forçada a se pronunciar, assumindo os três erros.

Não creio que a maior parte dos que fazem o PMDB de Acari apoiem tais "ações de marketing". Também não acredito que os patrocinadores do convite tenham concordado com a sua elaboração nesses moldes. Por isso, julgo que seja de bom grado a repulsa veemente por parte de todos, independentemente de partido. A sua defesa ou justificativa soa como cumplicidade. O espírito de porco que idealizou o convite, certamente, como ateu herege que o é, está rindo de tudo e de todos. Pena que do seu caráter não jorre uma única gota de hombridade para assumir o que fez, inocentando as muitas pessoas de bem que compõem o PMDB acariense.

PS: Não acatarei nenhum comentário de apoio ou de crítica. Não é interesse meu dar continuidade a polêmica. Apenas resolvi me pronunciar porque certas coisas para mim são inalienáveis. Sei que a reação mais correta e prudente é a resignação. Mas, nesse caso, calar vai soar como um consentimento ou uma aceitação e, definitivamente, não consinto nem aceito o que foi feito.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Festa da Colheita de Cruzeta (RN)


Luiza declamando o poema

Nossa participação

José Gentil (Til) e eu puxando o burrinho gazo pelo cabresto. Logo atrás, Gustavo Braz, Antônio (filho de Neto de Benedita) e Pedro Pires

O Grupo de Cavalvalgadas Acauã

As jovens amazonas Tereza Raquel e Luiza Gabriela.
Mário Manoel (Mário de Dr. Pedro) e José Gentil (Til)

Os quatro primeiros, da esqueda pra direita, são: José Moré, Til, Antônio Vaqueiro e Mário.
Os demais não foi possível identificar.

Abrindo o desfile, Juca Ramos e Antônio Vaqueiro. Na segunda fila, Til e Mário.

Mário Manoel (Mário de Dr. Pedro), Antônio Vaqueiro e Carlos Dantas (Carlinhos de Jecy)
OBS: Todas as fotos em preto e branco são do final da década de 60, mas infelizmente não conseguimos precisar o ano.


Domingo passado (19/07) foi realizada a 49ª Festa da Colheita de Cruzeta (RN), evento de grande tradição e que movimenta toda a cidade. Após a missa, deu-se o desfile de agricultores e de montarias pelas ruas do centro, com a benção do pároco defronte a igreja matriz de N. Sra. dos Remédios. As comemorações se estenderam por toda a manhã e início da tarde, na Escola Municipal Cônego Ambrósio Silva, e contou com a presença de várias autoridades locais e regionais. Além do anfitrião, prefeito de Cruzeta Sally Araujo, estiveram presentes o vice-governador Iberê Ferreira de Souza, o prefeito de Acari, Antônio Carlos (Tom), o prefeito de São Fernando, Genildo Maia. No decorrer das festividades ocorreu o sorteio de vários prêmios, dentre eles, 22 novilhas ofertadas aos participantes.

O Grupo de Cavalgadas Acauã, de Acari, do qual fazemos parte, esteve presente ao evento pelo segundo ano consecutivo e na ocasião foi convidado a dar uma palavra. Em nome do Grupo, agradecemos o convite e a acolhida, parabenizando o homem do campo, o grande protagonista da festa. Prestamos um tributo de reconhecimento e gratidão a Antônio Vicente (in memoriam) ou Antônio Vaqueiro, pela sua dedicação às realizações dos desfiles no passado. Também, utilizando-se da sua pessoa, estendemos a todos os funcionários e ex-funcionários da Estação Experimental de Cruzeta, hoje Emparn, a nossa gratidão pelos relevantes serviços prestados a agricultura e pecuária do Seridó e de todo estado do RN. Ao final da nossa participação, foi declamado por minha filha Luiza o poema “Pega de Gado”. Link do poema: http://seridopintadocompalavras.blogspot.com/2009/03/pega-de-gado.html

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Salmo 104


Foto: Canindé Soares

Confesso que, apesar de católico temente a Deus, não sou tão praticamente quanto deveria ser. Também não costumo me debruçar sobre o livro dos livros com a frequência que deveria. É muito comum nos lembrarmos da existência da bíblia sagrada apenas nos momentos de angústia ou de dificuldades. Dificilmente a folheamos sem uma motivação forte, seja para alimentar nossa alma ou simplesmente como forma de reforçar nossa fé. Assim como só costumamos nos dirigir a Deus para pedir. Não é muito comum nos dirigirmos ao Pai para agradecer as coisas simples que Ele nos dá todos os dias, sem que peçamos.

Ontem (21/07), quando da abertura de uma reunião de trabalho, sabendo, um colega, que a pauta era pesada, pediu licença aos presentes e leu o Salmo 104 da bíblia sagrada, que achei belíssimo. Para mim, o que seria uma reunião tensa, foi uma reunião amena, assim como ameno foi todo o meu dia de ontem. Gostaria de compartilhar com os que costumam frequentar este espaço, estas poéticas e sábias palavras:

Salmo 104

..tu que te cobres de luz como de um manto, que estendes os céus como uma cortina. És tu que pões nas águas os vigamentos da tua morada, que fazes das nuvens o teu carro, que andas sobre as asas do vento; que fazes dos ventos teus mensageiros, dum fogo abrasador os teus ministros. Lançaste os fundamentos da terra, para que ela não fosse abalada em tempo algum. Tu a cobriste do abismo, como dum vestido; as águas estavam sobre as montanhas. À tua repreensão fugiram; à voz do teu trovão puseram-se em fuga. Elevaram-se as montanhas, desceram os vales, até o lugar que lhes determinaste. Limite lhes traçaste, que não haviam de ultrapassar, para que não tornassem a cobrir a terra. És tu que nos vales fazes rebentar nascentes, que correm entre as colinas. Dão de beber a todos os animais do campo; ali os asnos monteses matam a sua sede. Junto delas habitam as aves dos céus; dentre a ramagem fazem ouvir o seu canto. Da tua alta morada regas os montes; a terra se farta do fruto das tuas obras. Fazes crescer erva para os animais, e a verdura para uso do homem, de sorte que da terra tire o alimento, o vinho que alegra o seu coração, o azeite que faz reluzir o seu rosto, e o pão que lhe fortalece o coração. Saciam-se as árvores do Senhor, os cedros do Líbano que ele plantou, nos quais as aves se aninham, e a cegonha, cuja casa está nos ciprestes. Os altos montes são um refúgio para as cabras montesas, e as rochas para os querogrilos. Designou a lua para marcar as estações; o sol sabe a hora do seu ocaso. Fazes as trevas, e vem a noite, na qual saem todos os animais da selva. Os leões novos os animais bramam pela presa, e de Deus buscam o seu sustento. Quando nasce o sol, logo se recolhem e se deitam nos seus covis. Então sai o homem para a sua lida e para o seu trabalho, até a tarde. Ó Senhor, quão multiformes são as tuas obras! Todas elas as fizeste com sabedoria; a terra está cheia das tuas riquezas. Eis também o vasto e espaçoso mar, no qual se movem seres inumeráveis, animais pequenos e grandes. Ali andam os navios, e o leviatã que formaste para nele folgar. Todos esperam de ti que lhes dês o sustento a seu tempo. Tu lho dás, e eles o recolhem; abres a tua mão, e eles se fartam de bens. Escondes o teu rosto, e ficam perturbados; se lhes tiras a respiração, morrem, e voltam para o seu pó. Envias o teu fôlego, e são criados; e assim renovas a face da terra. Permaneça para sempre a glória do Senhor; regozije-se o Senhor nas suas obras; ele olha para a terra, e ela treme; ele toca nas montanhas, e elas fumegam...

Amém!!!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Dia do Amigo



Hoje é dia do amigo. Todos nós temos um patrimônio incalculável e muitas vezes não valorizado, que são os nossos amigos. Costuma-se dizer que é muito difícil encontrar um amigo de verdade; que poucos são os que merecem a nossa amizade. Penso um pouco diferente. Claro que existe aquele amigo capaz de entrar no fogo junto conosco e existe aquele outro amigo que praticamente só se relaciona no trabalho. Mas ambos são nossos amigos, embora em níveis diferentes de afetividade e apreço. O grande problema, muitas vezes, está em nós, em não aceitarmos as pessoas como elas são ou não termos a tolerância que deveríamos ter.

Quer ter amigos? Seja tolerante e sincero, que a amizade naturalmente se estabelecerá. Seja maleável, ceda, quando a situação aconselhar. Não tenha palavra de rei. Reposicione-se ao reconhecer seus erros. Isso é sinal de inteligência e grandeza. Quer manter amigos? A receita é a mesma.

Um forte abraço em todos os meus amigos!!!


Amizade

Não existe escuridão
A luz é que está ausente
O frio só se propaga
Se o calor não tá latente
A morte nada mais é
Que a vida decadente

Assim é a inimizade
Que pra poder prosperar
Necessita da ausência
Do desejo de aceitar
Quando não existe ânimo
Nenhum, pra tolerar

Se não há disposição
Alguma, para ceder
Em hipótese nenhuma
Se procura esquecer
Então a inimizade
É o que vai prevalecer

Não há remédio melhor
Pra aquecer o coração
Que clarificar as coisas
Á luz da compreensão
Protegendo-se do frio
Na chama de um perdão

Existindo tolerância
Numa relação fraterna
Disposição pra ceder
Quando a razão se alterna
Então irá desfrutar
De uma amizade eterna

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A Força da Natureza



De férias em Acari, tenho passado mais tempo no sítio que na cidade. A zona rural está mais bela que nunca. O verde proporcionado pelo excepcional ano de inverno é como o nascimento de uma criança, que apaga da mãe toda a dor do parto, no caso, a dor da seca.

Não sei se é impressão minha ou se é o passar dos anos que desperta em nós uma maior sensibilidade às belezas que nos rodeiam, mas o fato é que me ocorre a nítida percepção que a vida tem explodido, ressurgindo das cinzas, no ambiente hostil dessas paragens do semi-árido nordestino. Tenho percebido uma população cada vez maior de pássaros colorindo os nossos céus sempre tão ensolarados. Galos de campina, concrizes, periquitos e muitos outros têm se mostrado aos bandos, numa sinfonia de cor e canto que encanta e apascenta. Ontem (14/07), ao entardecer, quando retornava do sítio, deparei-me com uma sariema (“seriema” não me agrada, soa estranho, como se fosse um outro animal) na estrada e, por sorte, andava com a câmera que fiz o registro de dentro do carro, mesmo com pouca qualidade, mas representativo de um testemunho da manutenção da vida. Há algum tempo atrás, encontrar uma sariema em um local que não fosse remoto e completamente desabitado, era algo muito raro. Hoje é muito comum ouvir o seu canto, mesmo em locais relativamente próximos da "vida cilizada".

Não sei se essa constatação decorre da atuação mais contundente do Ibama ou da consciência ambiental que começa a ganhar vulto ou dos últimos anos de bom inverno ou desses fatores todos somados, opção que julgo mais pertinente. Mas acho louvável o rigor na atuação dos órgãos públicos de proteção à natureza e rogo para que cada vez mais essa atuação imponha medo aos agressores da nossa frágil e agonizante fauna.

O Caçador

Tanto faz, se a arma é um cachorro
Se é branca, de fogo ou baladeira

Caçador é um poço de asneira
Contra ele eu elevo o meu desforro

Qualquer um bicho bruto, eu socorro
Mas sendo um caçador, pego e amarro

Predador racional, se nele esbarro

Piso em cima, esculacho e esmurro
Eu espanto, recanto e empurro

Tiro sarro, critico e escarro


Passando num roçado ele se apeia

A fartura que existe não escapa
Se não der pra levar, guarda o mapa
E no dia seguinte surrupeia
Com o suor dos outros faz a ceia
Do trabalho alheio se apossa
Vai tomando de conta, toda a roça
Fazendo sua feira, sem demora
Melancia madura, ele devora
Não estando no ponto, ele destroça

Se encontra um açude no cercado

Analisa se o peixe é abundante

Se o local é escondido ou distante

Sendo assim já o deixa reservado

Vem à noite e leva o pescado
Para trás fica o rastro de arruaça
Um cabrito no mato, vira caça

O arame da cerca, ele folga
Vida fácil, desordem lhe empolga
E o furto que fez vira cachaça


Sou pacato, não quero confusão

De confronto, eu só quero distância
Me afasto de qualquer arrogância
Mas quero muito vê-lo na prisão
Minha ação é uma tênue ilusão
Tudo que nos meus versos relatei
O que disse que faço, não farei
Se fizer, vai ser só em pensamento

Sonhando me livrar desse tormento

Caçador? Ou é um fora da lei?

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

terça-feira, 14 de julho de 2009

Burro Mulo


O animal acima é um muar excepcionalmente raro e belo, de quatro meses de idade. Trata-se de um burro mulo gazo, ou seja, albino, que além dessa alteração genética na pigmentação, ainda tem um sinal frontal branco na cabeça (careto) e um outro sinal preto próximo à orelha.


O burrinho brincando com um outro muar de pigmentação convencional, para comparação.


A criaturinha desfilando no campo.

A história do desbravamento do interior do nordeste brasileiro está intimamente relacionada com o uso de muares (burros mulos) e asininos (jumentos). Esses animais foram utilizados pelos primeiros colonizadores para o transporte de cargas e de pessoas em direção aos sertões mais longínquos. Como as terras mais próximas ao litoral eram bastante férteis e adequadas ao cultivo da cana-de-açúcar, base da economia mercantilista da época, a coroa proibia a criação de gado próximo a faixa litorânea, restando as áreas menos férteis e mais áridas do interior, para o criatório de gado.

Num primeiro momento, além das condições naturais adversas, a presença indígena hostil praticamente inibiu qualquer movimento mais efetivo de povoamente. Porém, após a Guerra dos Bárbaros, batalha que culminou na quase extinção das populações indígenas, o Seridó Potiguar se tornou destino de um movimento migratório de colonização mais abrangente. Não só o transporte de pessoas e de mercadorias passou a demandar a força animal: o manejo dos rebanhos bovinos e a necessidade da tração animal para a construção dos primeiros reservatórios de água que amenizariam os efeitos das secas, demandaram animais fortes e resistentes ao clima e a seca. O jumento e o burro, com suas características de rusticidade e força, adaptaram-se perfeitamente a essas situações e passaram a fazer parte do cotidiano do nordestino, seja como veículo de transporte ou como ferramenta de trabalho. Os viajantes, os tropeiros, os tangerinos se utilizavam deles para os extensos e inóspitos percursos trafegados, transportando gado, mantimentos ou simplesmente pessoas.

Com o passar do tempo, com a automação e a modernização, o jumento passou a ser muito menos útil. Porém, o burro mulo continua extremamente importante no manejo bovino e no transporte nas propriedades rurais, sendo muito valorizado e reconhecido pela sua utilidade, situação que não abrange a espécie asinina. Infelizmente é muito comum ver animais da espécie desprezados às margens das rodovias.

PS: O muar ou burro mulo é fruto do cruzamento de duas espécies distintas: o jumento ou asinino, com o cavalo ou equino. O resultado do cruzamento é um híbrido infértil que reune as características de velocidade e versatilidade do cavalo, e a resistência e rusticidade do jumento.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Aflição


Foto: Vídeo Foto Galvão

Não creio que o camaleão que Dedé de Seu Milton Lopes conseguiu flagrar contemplando as belezas do nosso Gargalheira, sofra qualquer espécie de aflição. O réptil pode até não imaginar que tem tudo, mas com certeza tem.

O espaço existente
Entre a paz e a aflição
É trilha que o coração
Perambula sem a mente
Quase que inconsciente
Com a lucidez peralta
A insensatez exalta
Instigando o frágil ser
Que imagina tudo ter
Mas no fundo tudo falta

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Tempo II


Foto: Canindé Soares

O tempo que nos afasta
É o tempo que aproxima
Capaz de apagar mágoa
Remédio pra quem lastima
Alívio pro coração
Cura até desilusão
Que a cega paixão vitima

Refúgio pra qualquer mal
Reparo à agressão
Sem nada de imediato
Que traga consolação
Não tendo outro advento
Que sossegue um tormento
O tempo dá solução

Faz o fraco ficar forte
O pequeno, faz crescer
Quem é novo envelhece
O velho, faz renascer
Muda os nossos caminhos
Troca flores por espinhos
Nos ensinando a vencer

Com o tempo, uma rosa
Desabrocha do botão
Seu perfume e encanto
Logo estarão no chão
Mas o símbolo fraterno
Permanecerá eterno
Cumprindo a sua missão

Tudo muda, tudo passa
Aqui nada é eterno
Produzimos no futuro
Cultivando no inverno
Quem esbanja todo o mel
Hoje a vida é um “ceu”
Amanhã será “inferno”

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)