segunda-feira, 28 de junho de 2010

Silêncio



O silêncio é a mais marcante forma de expressão. É o perfeito modo de comunicação: um olhar, um gesto, a atitude ou simplesmente uma fisionomia, às vezes exprimem sentimentos que palavra nenhuma do nosso vocábulo é capaz de definir plenamente. O calar lidera, reprime, acalma, orienta, aconselha, exemplariza. É como se as palavras se apresentassem na sua essência mais pura, completamente despidas de adereços. Não é necessário ouvir nem ler. É necessário perceber e sentir os efeitos em cascata de uma “fissão atômica” do vocabulário.

Verbo calado
Palavra muda
Sábio silêncio, mensagem veluda

Fissão do som
Fala desnuda
Pálida face da verdade aguda

Razão sisuda
Exclamação
Brado no gesto, olhar da comoção

Pleno recado
Compreensão
Da estridente voz do coração

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

domingo, 13 de junho de 2010

A Ponte


Ponte Newton Navarro (Foto: Ivanízio Ramos)


Foz do Rio Potengi fotografada de cima da Ponte Newton Navarro

Rio Potengi e Praia da Redinha (foto tirada da Ponte Newton Navarro)


Natal às margens do Rio Potengi (foto tirada da Ponte Newton Navarro)

Concreto que liga sonhos
Abreviando a estrada
Transpõe difíceis barreiras
Com estrutura prostrada
Debruçando-se no rio
Espichada no vazio
Inerte grandeza armada

Em uma nobre empreitada
De relevância inconteste
Bem mais que um simples adorno
A ponte imponente investe
Fazendo a conexão
Liga o árido sertão
Ao umedecido agreste

Antagonismo terrestre
Transita pelo seu vão
Por baixo a água da chuva
Em ano de redenção
Por cima uma caravana
Temendo a seca tirana
Abandona o seu torrão

Na partida, o coração
É lançado em estilhaços
No momento do regresso
Por ela se estendem braços
Que acolhem sem receio
Um abraço sem refreio
Reatando fortes laços

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Garganta da Morte



Foto baixada do Orkut de Chaguinha de Gabriel: uma belíssima e assustadora imagem de Gargalheira.

Como quem dar um belisco
No seu próprio fenecer
Num estranho entorpecer
O homem se entrega ao risco
Parece que há um confisco
Da sua razão febril
Um encantamento vil
Na ilusão de vencer
O fascínio do poder
Compõem enredo sombrio

Uma vida por um fio
Bem na garganta da morte
Na corda bamba da sorte
Brincando com fogo hostil
A coragem infantil
Tem na inocência, abrigo
Ignorando o perigo
Numa sedução final
Delira que é imortal
Forjando o próprio jazigo


(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

domingo, 6 de junho de 2010

Paz do Mar


Foto do Chapadão da Praia de Pipa, no litoral sul potiguar. A falta de habilidade do fotógrafo dificulta o enquadramento da beleza do lugar. Mas é um cenário realmente deslumbrnte.

Em um salto do penhasco
Belo firmamento instiga
Na queda livre de tudo
Uma paisagem litiga
Sucumbindo o sol poente
Rege a faxina da mente
Aniquilando a fadiga

Uma doce brisa abriga
A paz que emana do mar
E navega na beleza
De uma noite de luar
A onda no seu balanço
Inebriando o descanso
Como um materno ninar

O botão de desligar
A agitação do mundo
É o mesmo que aciona
O encantamento fecundo
Quando o cenário seduz
A retina nos conduz
Rumo a um êxtase profundo


(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Seca



Solo rachado
Pura aflição
Vento murmura na escuridão

O céu em brasas
Extrema unção
Só movimentos de folhas no chão

Estio pagão
Escolhe a cor
Pintando em cinza a tela da dor

Insuportável
Forte calor
Sertão sedento, tempo assustador

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)