Porteira Velha
Foto: Kaurê Martins
Porteira velha, emperrada
O seu fim é um suplício
Lá bem longe, no início
Quando tu foste sentada
Com capricho, acabada
Dava gosto de se ver
Até o som do “gemer”
Que do atrito advém
E toda porteira tem
Ouvi-lo dava prazer
A boiada esperava
Paciente, sua hora
Prosseguindo, sem demora
Quando o guia escancarava
E o vaqueiro que guiava
Chamava o gado, aboiando
O rebanho, atrás, urrando
Como que compreendendo
No mesmo tom respondendo:
- Dá licença, vou passando
Por ti passava o vaqueiro
No seu burro bem zelado
E o careto, calçado
Que montava o fazendeiro
O trabalhador, meeiro
Tangendo o seu jumento
Carregando seu sustento:
Milho, feijão, melancia
Mas chegando ao fim do dia
Por ti só passava o vento
Ou melhor, vou corrigir:
Pela sua imponência
Sem a sua anuência
Não passava por ali
Nada podia seguir
Em ti, tudo esbarrava
O vento lhe respeitava
Desviando noutro prumo
O preá mudava o rumo
E nunca lhe afrontava
Como que em um quartel
Que se bate continência
Saudando na reverência
A patente coronel
Até as aves do céu
Respeitavam, ao pousar
Escolhendo pra sentar
Na cerca que segue ao lado
Nem os touros do cercado
Ousaram em ti marrar
Mas da glória do passado
Só lhe resta o gemido
Soando bem mais sofrido
Quando sendo acompanhado
Do ruído do arrastado
Quando roça pelo chão
Que cruel humilhação
Ver a mais bela porteira
Perto de virar fogueira
Ou lenha para o fogão
Em vez de gado no pasto
E porcada no chiqueiro
Com galinhas no terreiro
E um cachorro bom de rasto
Um belo roçado, vasto
E muito peixe no rio
A natureza no cio
Com fartura que nos pasma
Só nos restou um fantasma
De tudo que existiu
Sou o mourão que a sustenta
E nunca cedeu um palmo
Confesso, não estou calmo
E nada mais me alenta
O futuro que se aventa
Machuca mais que lancete
Eu afirmo, sem falsete:
Desejo que o cupim
Possa abreviar meu fim
A ter que firmar colchete
(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)
Sempre tão espontâneo e cheio de boas coisas!
ResponderExcluirÉ sempre bom passar aqui e deixar um comentário.
Ando sem tempo pra nada...
Mas sempre que poder deixo aqui minha marquiinha!
Bom 7 de Setembro!
Beijo, se cuida e Fica com Deus ;D
Valeu, Gabi!!! Sua habitual presença é um grande estímula para mim.
ResponderExcluirFique com Deus você também!!!
Tudo que é matéria, um dia se vai. Preservando-se apenas a essência. Gosto de seus versos, bem construidos e que nos fazem refletir.
ResponderExcluirÁbraços,
Célia
Ou cabra macho, a exemplo do mourão que deseja que o cupim lhe destrua que ver a porteira ser queimada, assim é você que nunca deixará as suas origens e conceitos rurais, maravilhas, Parabéns!!!
ResponderExcluirGostei da comparação entre a verdadeira vaquejada e o espetáculo estilizado que são hoje.
ResponderExcluirPorquê não existir os dois tipos, a exemplo das quadrilhas juninas, a matuta com os verdadeiros vaqueiros das lidas do gado com seus cavalos criolos e a estilizada para dar espetáculo pra inglês vê. Sei que está muito em cima mas no próximo ano poderiamos ter a primeira vaquejada matuta junto com o torneio leiteiro em Acari...
Essa porteira tá muito bonita! Outra lembrança: avista-se o caminhão em sábado de feira. O menino ganha-pão-moeda.
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