Curiosa e mansa, pousando para um close
Sariema (seriema) domesticada , criada solta, desde pintinho.
CRENDICES ENTRE OS CAÇADORES DO SERTÃO DO SERIDÓ
(Oswaldo Lamartine de Faria)
O sertanejo seridoense carrega, como os demais homens do campo, as suas superstições legadas dos nossos antepassados luso-afro-ameríndios.
No Dicionário do folclore brasileiro, Luís da Câmara Cascudo arrola maior número de superstições ligadas ao cachorro:
"Quando uiva, está chamando desgraça para seu dono. Ouvindo o uivo, diz-se: todo o agouro para teu couro! Ou emborca-se um sapato virando-se a palmilha para cima. O cão se calará. Cachorro cavando na porta de casa está cavando a sepultura do dono; se cavar areia com o focinho para rua vale o mesmo. Com o focinho voltado para casa, cavando para fora, é anúncio de dinheiro. Dormindo com a barriga para cima, mau agouro. Deitado, com as patas dianteiras cruzadas, bom agouro. Rodando sem destino pela casa, está afugentando o diabo. Dormindo e ganindo, está sonhando. Urinando na porta é prognóstico feliz. Quando está uivando é porque vê almas do outro mundo ou a morte aproximando-se. Os cães eram sacrificados a Hécate e avisavam de sua presença invisível uivando, assim como viam os deuses, os lêmures, as sombras dos mortos (Ovídio, Fastos, 1, 889; Horácio, Epodos, V). Para cachorro não crescer, pesa-se com sal. Para não fugir, enterra-se a ponta da cauda ou os escrotos debaixo do batente da porta, ou, sendo na fazenda de criar, no mourão da porteira. Não é bom erguer o cão pelas orelhas, para que não fique mofino (covarde). Para não ficar hidrófobo, deve ter nome de peixe. Quem mata um cão deve uma alma a São Lázaro. Puxando a cauda do cão toma-se ladrão. Para livrá-lo da tosse, põe-se-lhe ao pescoço um rosário feito com pedaços de sabugo de milho. Cachorro com orelha cortada na sexta-feira da Paixão fica imune de hidrofobia. Quem sofre de pesadelo deve fazer um cachorro dormir debaixo da cama. Para perder o faro, passa-se uma bolinha de sebo na ponta da cauda e dá-se-lhe a comer. Para readquirir o faro, esfrega-se-lhe no focinho sangue de tatu ou de veado..."
Dentre muitas anotadas e omitidas atrás, acrescente-se que o cachorro não deve comer carniça de animal (o matuto quando diz animal, refere-se a eqüinos, asininos e muares) sob pena de ser atacado do "mal da rabugem". Como medida curativa amputam-lhe as extremidades das orelhas.
Antônio Vicente, meão de idade, natural da Serra da Araruna (PB) e assassinado em derredor da década de 1950 para uns lados da Serra do Sincho (São Paulo do Potengi, RN) dizia de uma vacina infalível para imunizar os cachorros contra a moléstia (hidrofobia); consistia em uma beberagem de rapadura, sal e alho a ser ministrada na "força da lua", isto é, três dias antes e três dias depois da lua cheia ou nova.
Força da lua que faz cachorro mordido correr (ficar hidrófobo), os aluados endoidarem, as fêmeas prenhes darem cria e os mordidos de cobra sofrerem terrível dor de cabeça. É de se imaginar que a selenotaxia no mundo sertanejo tem material sobejo para um estudo que já está tardando.
A caipora (curupira dos índios) não é "estória de Trancoso" para a maior parte daquela gente. Ela é a mãe do mato. Ruiva, assexuada, escanchada em um porco do mato e cachimbando — faz a vez do único código de caça que existe e se conhece naqueles mundos:
Vestida só com os cabelos
é a roupa que lhe convém
............
E os tais cabelos curtos
no corpo da caipora
é como espinho de cardeiro
a ponta aparece fora
Na noite de sexta-feira, evitam andar no mato. É o receio da caipora que os persegue com um assobio fino-de-fazer-medo e açoita-lhes os cães:
Tem noite que a caipora
quer ir brincar influída
corre adiante dos cachorros,
onde quer, fica escondida
os cães pegam a uivar
a caçada está perdida
No outro dia o cachorro
amanhece todo inchado
e fica vazando sangue
o cabelo arrepiado
e não pode mais comer,
morre o cachorro afamado
A meizinha usada para livrar o cachorro da caipora é a esfregadela de alho pelo corpo. Para o bicho-homem, há outra:
Mas a caipora é muito
intrigada com pimenta
caçador que come molho
a caipora se afugenta
O caçador que tomar
amizade à caipora
tem que lhe dar muito fumo
e ver ela toda a hora
mas descobrindo o segredo
ela dá-lhe e vai embora...
A caipora às vezes vem disfarçada em outro bicho. Um sertanejo, há muito, confidenciou-me haver disparado e recarregado a capricho sua lazarina por quatro vezes em um gavião vermelho: "Olhe que não dava quinze braças pra onde eu estava agachado. No primeiro tiro o bicho se arrepiou e sujou (defecou) — pensei inté que ia cair. Depois dos quatro, já desconfiado, rebolei uma pedra e vim m’imbora..." Outro contou-nos haver atirado em um veado e esse, impassivelmente, vir farejar o pé de pau onde estava trepado. Astúcias da caipora.
(Faria, Oswaldo Lamartine de. A caça dos sertões do Seridó. Rio de Janeiro, Serviço de Informação Agrícola, 1961. Documentário da Vida Rural, 16, p.52-53)
Gostei muito dos contos: resgate da cultura popular.
ResponderExcluirResgatar essas histórias como Oswaldo o fez e retomá-las assim como vc está fazendo é manter uma chama viva...uma chama quente de saudade e tradição.
ResponderExcluirOswaldo, o príncipe do sertão tb falava da tradição sertaneja das facas, das lambedeiras...seria interessante resgatar aqui, assim como os ferros de ferrar bois.
Um abraço
Elina Carvalho
Adoro parar pra ler seu blog, pq tem de tudo.
ResponderExcluirVocê pode até estranhar, mas tem crendices aí, que eu não sabia que existia!!! Aprendo de tudo aqui.
Tô sentindo falta de suas poesias, principalmente dos sonetos!!
Bjos...
Gosto muito dos escritos de Oswaldo Lamartine, e você os reproduzindo está passando a frente a nossa cultura popular.
ResponderExcluirVc sumiu lá do meu Teatro =/.
ResponderExcluirhehe... beijo.
Pedro,gosto dessa versatilidade que aqui encontro.Seus textos são fantásticos. Assim vou aprendendo um pouco dessa cultura maravilhosa, da terra seridoense, que apesar de não conhecer,daí surgiu minhas raízes.Parabéns, caríssimo amigo.
ResponderExcluirUm afetuoso abraço,
Célia Medeiros
Admito o quanto o gosto do seu blog, mas esse bicho é muuito feio!
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkk
Um grande abraçoo, Pedro!
Simpatia para emagrecer de Chico Xavier
ResponderExcluirQuarta feira pela manhã coloque meio copo de agua , dentro dele o número de grãos de arroz correspondentes aos quilos que você deseja perder.
Nao coloque grãos a mais do que você deseja, pois os quilos perdidos não são recuperados.
A noite beba a água deixando os grãos de arroz, completando novamente com meio copo de água. Quinta feira pela manhã em jejum beba a água deixando os grãos de arroz, complentando novamente com meio copo de água.
Sexta-feira pela manhã em jejum beba a água com os grãos de arroz junto.
Obs:
1- Conserve o mesmo copo durante o processo,
2- Não faça regime pois a simpatia é infalivel,
3- Tire o número de cópias correspondente aos quilos que deseja perder
4- Começe na quarta feira após distribuir as cópias,
5- Publique na mesma semana.
Boa Sorte