domingo, 2 de agosto de 2009

Festa da Padroeira II


Igreja Matriz de Nossa Senhora da Guia, em Acari (RN)

Imagem de Nossa Senhora da Guia, dentro da sua Matriz , em Acari (RN)

A festa da padroeira é um momento único de congraçamento, quando o sertanejo reencontra o seu passado, evocando, com orgulho, o amor pelas suas suas origens. Como muito bem define Juvenal Lamartine, trata-se do “ponto alto dos festejos sertanejos”, ocasião em que as famílias se deslocavam das fazendas para zona urbana, onde passava a habitar no decorrer das comemorações. No campo, a maior parte da população vivia, e do campo, a maior parte da população retirava o seu sustento. Porém, era na sede da freguesia que os habitantes se uniam, uma vez por ano, para exaltação da sua religiosidade e para o exercício da socialização.

Atualmente a realidade do Seridó é outra. A zona rural, por não ter condições de suprir as necessidades que o padrão de vida contemporâneo exige, perdeu a sua hegemonia econômica e social e, em muitos casos, acabou sendo quase abandonada. As condições adversas do sertão nordestino, combinadas com a falta de uma política pública apropriada, favoreceram ao êxodo rural que, em princípio, teve nas sedes dos municípios, o seu destino. Como essas pequenas cidades não tiveram, nem têm, condições de absorver toda essa mão-de-obra, a emigração se apresentou, e se apresenta, como uma alternativa de vida sedutora.

Para os grandes centros, parte da população rumou, e continua rumando, e pelo Brasil afora - por que não dizer, mundo afora - se fixou, demonstrando a sua garra e obstinação em vencer. O que era um povo com forte apego às suas origens, logo se transformou em uma nação dispersa por todo o território nacional, que finca uma coluna de resistência aos seus valores, enaltecendo as tradições seridoenses, onde quer que esteja. Constitui-se em uma tarefa fácil localizar ou identificar um seridoense fora do seu habitat, pois o indivíduo faz questão de alardear aos quatro cantos, o extremo orgulho que tem pelo seu passado e pela sua região natal.

Nessa versão sertaneja e permanente da bíblica diáspora, o seridoense constantemente se vê obrigado a deixar a sua “terra prometida”, para buscar o seu sustento ou sucesso profissional em outras paragens. Fugindo das dificuldades e de uma dura realidade, sem nunca perder o amor pela terra onde deu os primeiros passos, inicia uma nova vida distante de casa, mas sempre cultivando e mantendo acesa a chama do desejo de regressar, em definitivo. Talvez a peregrinação anual que caracteriza a festa da padroeira, também sirva para renovar esse amor e esse desejo de retorno. Um retorno lúdico, pois sabe muito bem que os novos laços (sociais, profissionais, afetivos, etc), surgidos na sua jornada de vida, o impedirão de satisfazer o que foi uma jura ou uma promessa que jaz remota, mas que o incomoda profundamente.

Não são poucos os que, mesmo morando distante, orgulham-se de nunca ter perdido uma festa da padroeira de sua cidade. Quase como um pedido de desculpas, por não poder mais retornar definitivamente à terra onde guarda pedaços preciosos da sua vida, o seridoense supera todos os obstáculos para anualmente prestigiar esse tradicional festejo. Talvez a espera do perdão, por uma traição que supostamente praticou, ou da clemência, por um crime que julga ter cometido, anualmente ele vence a distância, deixando para trás suas obrigações cotidianas e os seus compromissos sociais, e se entregando a veneração à padroeira, a veneração à terra que o concebeu, a veneração aos entes queridos que o transformaram em um homem de bem e que são partes indissolúveis do patrimônio histórico e cultural da região do Seridó.

Um comentário:

  1. Ah, Pedro, sou filha de um seridoense, que na juventude teve que largar seu torrão natal, em busca da sobrevivência,mas até hoje, fala de lá com tanto carinho.
    Que Nossa Senhora da Guia, nos guie; que Deus nos ilumine sempre!
    Bom dia!
    Abraços
    Célia

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