sábado, 23 de janeiro de 2010

Carcará


Foto baixada da internet, de autoria desconhecida



Garras fortes, afiadas
Imobilizando a presa
Bico penetrando a carne
De uma vítima indefesa
Precisão em golpe presto
Crueldade em cada gesto?
Não. É sua natureza

Com agressiva frieza
E conduta assassina
O planador saguinário
Vôa pra carnificina
Não cultiva piedade?
Ou faz tudo por maldade?
Não. É só a sua sina

Sua beleza fascina
Deslizando em pleno ar
Imponente e absoluto
Domina o seu habitat
Não mata porque lhe apraz
Nem é símbolo de paz
O astuto carcará

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Chuva II


Foto tirada no domingo (17/01), da estrada da Faz. Fortaleza, em direção a Jardim do Seridó

Agora, ao final da tarde, recebi uma ligação do meu irmão José Gentil, falando-me que tinha acabado de chegar de Currais Novos e que tinha "pego chuva" de lá até Acari. E agora, chegando eu em casa, abro o correio eletrônico e leio o email transcrito abaixo, remetido por Sérgio Enilton:

Parece que São Sebastião irá cumprir as promessas rogadas para esse ano. Ontem em Acari o tempo ficou abafado, mas só a noite por volta das 19:00 horas é que caiu aquela chuva mansa e generosa. Hoje (19) véspera de São Sebastião padroeiro em várias cidades do Seridó, sua devoção faz com que o sertanejo peça em preces e roga as bençãos de um bom inverno e boa fartura protegendo das pragas e pestes. Eis que chove em Acari, já no cair da tarde (16:00) as nuvens escureceram e está caindo chuva no sertão. O trovão sempre avisando que vai cair um pé d'água.

A rua Da Matriz, próximo a agência dos Correios, tem um desnível que provoca aquele alagamento, e aos poucos a água da chuva vai lavando o calçamento. Como diz a música: "Chove chuva, chove sem parar..." A noite serena chegou e continua chovendo. É quase hora da "ave-maria".

É difícil explicar a pessoas de outras origens, esse sentimento que domina o sertanejo, quando se depara com a chuva. O que para muitos é motivo de aborrecimento, para nós é motivo de comemoração. Poucas coisas me trazem tanta satisfação quanto um banho de chuva em uma biqueira farta, estando eu no Seridó. Fico, daqui de Mossoró, morrendo de inveja da menina que, certamente, a essas alturas, sobe e desce ruas, em busca da goteira mais generosa.

Vamos torcer para que o bom prenúncio de inverno se confirme.

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

Chuva


Foto tirada no domingo (17/01), da estrada da Faz. Fortaleza, em direção a Serra da Rajada

Foto tirada no domingo (17/01), da estrada da Faz. Fortaleza, em direção ao nascente

Foto tirada no domingo (17/01), estrada que leva a Jardim do Seridó, da entrada do Bico da Arara, em direção a Serra da Rajada

Foto tirada no sábado (16/01), da estrada da prainha, em Gargalheira

Foto tirada no sábado (16/01), do Bar de Boinho, em Gargalheira

De chuvas, fauna e flora

Nos últimos dois finais de semana estive no Seridó. Já é possível contemplar a vida ressurgindo, literalmente, das cinzas. As chuvas caídas no final do ano e as demais chuvas esparsas que se precipitaram já este ano, como uma mágica, estão colorindo o cenário sombrio acinzentado. Da rodovia, é possível observar a explosão de vida que eventualmente atravessa o asfalto: preás, raposas e animais peçonhentos são os mais comuns, além da passarada. Mas no domingo (10/01) anterior ao domingo passado, após São Rafael e a caminho da BR 304 , em plena luz do dia do final de tarde, cruzou em nossa frente um gato do mato vermelho. Um animal difícil de se ver e bastante sagaz, que só tive o prazer de contemplá-lo uma única vez, a caminho do sítio, na estrada do Bico da Arara. O gato vermelho é parecido com um puma em miniatura. Lindo demais!

Então eu lembrava dos relatos (absurdos), que já escutei, de caçadores que apreciam o prato (crime), justificando que o mesmo tem uma carne saborosa, assemelhando-se ao sabor de galinha. E aí naquele momento eu pensava: - “Eu daria um galinheiro inteiro para que o gato desse uma paradinha, para que eu pudesse fotografá-lo.” Infelizmente só pude guardar o animal na lembrança, já que ao ver o carro, o mesmo mergulhou na mata, assim como na primeira ocasião.

Mas voltando ao assunto “chuva”, nos dois finais de semana as chuvas passaram bem perto da cidade (Acari), por vezes chuviscando, como ocorreu no domingo passado. As fotos acima foram tiradas no último sábado, em Gargalheiras, e no domingo, na saída para Jardim do Seridó.


Chuva


Gotas que caem do céu

Cortina que cobre o anil

Deslizando no vazio

Coloca doce no mel

Um afiado cinzel

Na habilidosa mão

Do experiente artesão

Que entalhará a vida

Sorri, a face sofrida

Força do frágil sertão


Penetra o solo sagrado

Que pisa o gado faminto

No campo, preto retinto

Brota o pasto encantado

Mesmo sem ser semeado

O verde recobre o chão

Milagre da criação

Obra-prima colorida

Sorri, a face sofrida

Força do frágil sertão


Seca a lágrima do rosto

Molhando a árida terra

Ornamentando a serra

Com o máximo bom gosto

Maltrata o corpo disposto

Calejando sua mão

Afago no coração

Que cura qualquer ferida

Sorri, a face sofrida

Força do frágil sertão


(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Palavras


O primeiro alvorecer do ano, por Canindé Soares

Peço desculpas aos que eventualmente me dão o prazer da visita a este espaço, pela minha ausência prolongada: é que o trabalho e o estudo me absorveram totalmente neste final de ano. Agradeço aos que, de certa forma, "cobraram-me" publicações, como também agradeço aos que expressaram preocupação pelo meu "sumiço" não justificado.

Palavras

Palavras provocam guerras
Ou encerram os conflitos
Muitas elevam verdades
Outras edificam mitos
O bom homem faz o uso
O tirano faz o abuso
Com embustes contraditos

Palavras são como lanças
Numa dança insinuante
Contorcendo-se no céu
Num balé dissimulante
Em uma missão hostil
Vão percorrendo o vazio
Rumo ao alvo litigante

Palavras arrasadoras
Como a larva do vulcão
Poderão desagregar
A mais sólida união
Capacidade nociva
Substância corrosiva
Força de devastação

Palavras resignadas
Emanam sabedoria
Proferidas com destreza
Dispostas com maestria
Confortando a comoção
Apascentam a aflição
Irradiando harmonia

Palavras, como punhais
Sangram o flácido peito
Singrando mares revoltos
Sagram o ímpio, imperfeito
Um belicoso arsenal
Posto a serviço mal
Ou, das virtudes, afeito

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)