quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O Corpo e a Alma


Com o seu fardo pesado
Distante do holofote
Sob o açoite do chicote
O corpo é martirizado
No tormento é afogado

Quando a carne é agredida
Mas mesmo a grave ferida
Não o torna um infeliz
Só condena à cicatriz
Da tortura recebida

Já a alma conduzida
Pelo açoite da riqueza
Perderá toda a nobreza
Numa vida reduzida
Quando a aura é seduzida
Pela gana obscena
A ferida que gangrena
Como chaga erosiva
Sangrará em alma viva
Sem nunca ter cura plena

A mais agressiva pena
Que podemos padecer
Não esgota o prazer
Da existência terrena
Mas se a alma se apequena
Em um árido deserto
Terá um destino certo
De embuste feiticeiro
Um escravo do dinheiro
Nunca estará liberto

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Geni e o Zepelin


De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Foi assim desde menina
Das lésbicas concubina
Dos pederastas, amásio
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
"Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni"

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme Zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do Zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: "mudei de idéia
Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniqüidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir"
Essa dama era a Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela prisioneiro
Acontece que a donzela
E isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
"Vai com ele, vai, Geni
Vai com ele, vai, Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni"

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nesta noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu Zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
"Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni"

(Chico Buarque de Hollanda)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Culto ao Sensacionalismo



Não consigo entender como é que com tantos problemas relevantes a serem aprofundados, com tantas injustiças maiores para serem noticiadas – se é que há injustiça no caso –, a imprensa abre o espaço que abriu, em todos os canais e em todos os horários, para uma ocorrência tão pouco relevante, como foi a expulsão da aluna da Uniban.

Longe de mim, querer questionar a justiça ou injustiça da expulsão, a pertinência ou não da atitude, mas será que o MEC não tinha problemas maiores para cuidar, interpelações mais importantes a fazer, que ir pedir esclarecimentos a respeito de uma decisão que pode até ser questionável, mas está longe de ser absurda - falo exclusivamente da deliberação sobre a expulsão. Para mim só há uma intenção nisso tudo: a busca pelos holofotes.

Não só o MEC, mas qualquer outra instituição pública que se meter no caso vai estar buscando exclusivamente notoriedade. Se a aluna tiver sido tratada de uma forma injusta pela Uniban, ela tem a justiça para recorrer e pelo menos mil advogados querendo pegar o caso só por um percentual da causa. Com certeza não será desamparada e seus direitos serão tutelados em sua plenitude.

A fúria insana dos estudantes no dia em que a aluna foi rechaçada é tão repugnável quanto a repercussão que o caso está tendo. Infelizmente essa publicidade toda só existe porque há quem goste. Cogito que o forte apelo é como um alimento para muitos. Qualquer assunto, por mais importante que seja, fica em segundo plano quando vem a tona um vexame escandaloso. É a baixaria como novo elemento cativante de audiência - o "Pânico na TV", da Rede TV, é o maior exemplo disso - e a sedução apelativa do culto ao sensacionalismo e ridicularização.

sábado, 7 de novembro de 2009

São Seridó Amado II



Igreja do Rosário de Caicó (RN)

Após a postagem do poema do poeta Da Mata, encaminhei um email para ele indagando alguns detalhes da sua composição, que, devido a minha ignorância, não compreendi. Então o amigo me respondeu com o email abaixo e, de quebra, anexou um texto muito interessante sobre a sua ida a Festa do Rosário de Caicó, deste ano. Em itálico segue o email explicando detalhes do poema e, na sequência, o referido texto ipsis litteris:

Caro Pedro,

Cezão é como os antigos conheciam a malária. Meu avó morreu dessa doença. Meu bisavô foi mestre escola em Caicó. O mestre Escola era um professor que ia ensinar nas fazendas . Um professor ambulante. O quadrivium do latim eram as quatro disciplinas ensinadas antigamente, aritmética, geometria, astronomia e música. Formava com o trivium, gramática, lógica e retórica, as sete artes liberais que precisava ser aprendida para ser considerado culto. "Sefus gões" é uma expressão latina que vi gravada num quadro e é uma homenagem ao padre Guerra.


Abraço,


João da Mata Costa
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Viagem à Vila Nova do Príncipe

Cinqüenta Anos depois


Para Moacy e Edjane


Da Festa do Rosário, Bar do Ferreirinha, Personalidades, Amigos e outras matérias.

“Da Mata é o Físico João / Faz do Mister o Amor”.

(Lula Pneus)

Bar do Ferreirinha 50

Em cinqüenta anos a volta. Saí de Caicó com um ano de idade numa festa de do Rosário e volto cinqüenta anos depois. Uma volta para a mãe-terra. Para o útero. Tudo é envolto num mar de significados para além do que posso escrever.

Encontro sem combinar com o meu querido tio José Paulino – Zé Baixinho, irmão da minha querida mãe. Encontro Zé Romão nos seus mais de oitenta anos. Chapeleiro antigo e amigo íntimo de papai morto precocemente.

Logo ao chegar ao Bar do Zeca Barrão encontro o famoso Bibica. Nosso candidato a governador. Quem não for babaca vota Bibica. Bibica acompanhado de um bode vende a rifa (mais uma) que sortearia o famoso animal-símbolo do sertão nordestino.

Bibica é querido de todos e está em toda parte. No outro dia Bibica está de paletó para cumprimentar seus eleitores e tirar fotos com os seus muitos admiradores.

O filho do Dinarte Mariz, o ex-reitor da UFRN Geraldo Queiroz, políticos e vereadores, professores e populares estão presentes na festa de lançamento do livro.

Outra grande figura que tive o prazer de conhecer foi o comediante Silva – Cover do Chico Anysio. Artista que esteve entre os 10 melhores do Faustão. Simpático sempre fazendo muganga com a boca e língua.

O lançamento foi um sucesso. Livro-homenagem aos 50 anos do bar do Ferreirinha, o mais tradicional de Caicó- RN. Um livro-álbum de fotografias numa justa homenagem ao bar e seu proprietário, para ciúmes do Zeca Barrão cujo bar vizinho-esquina faz encontro de cadeiras com o bar do Ferreirinha.

Estão de parabéns os autores do livro Roberto & Pituleira e o editor Abimael. São vendidos mais de uma centena de livros numa festa que durou o dia inteiro. Só interrompida para a passagem da procissão do Rosário. Animou a festa a Banda de Música Recreio Caicoense seguida por uma animada roda de samba. Dei uma canja e dancei acompanhado da grande musa da festa, a bela atriz Nina.

Ferreirinha e Anchieta, o primeiro cliente do bar - também autografaram o livro. Não faltou quase ninguém no lançamento-festa. Muito sentida foi a ausência do Moacy, mentor e prefaciador do livro.

Um grande abraço para o amigo Lula Pneus com quem tive o privilégio de conversar pessoalmente, e recebi de presente um lindo poema cujo mote é a epígrafe desse artigo.

Parabéns ao Souza por nos mostrar seu acervo de fotos antigas de Caicó e seus habitantes ilustres.

O mestre de cerimônias da festa foi o grande comunicador Pituleira.

Para completar o dia-banquete de emoção e resgate, encontro na noite Caicoense, a grande cantora Dodora e a amiga Edjane. É demais para o meu coração.

Em cada habitante um rastro. Na aspereza do ar, a rispidez da falas o orgulho do seridoense. O presente grávido do passado nutre uma grande alegria de poder estar vivendo esse momento de grande riqueza biográfica em meio século de existência.


Outras Personalidades


A casa do Passarinho Avelino

Avelino é um amigo de sempre. Fico em sua casa que é como um coração – atelier- floresta – gaiola aberta de sonhos. Em cada canto uma obra de arte da Ave-Linho.

Um quadro abstrato é uma das ultimas obras do artista. Quadro inspirado nas cercas de pedras caicoenses recebeu o título de “priquito atravessado”.

Ali adiante duas caixas de ovos pintados pelo artista passarinho. São seixos rolados de um rio que flutua feito uma rosácea-cera, ou seria Papai Noel.

Maurílio – O guardador das Horas

Na sua casa-museu guarda o tempo o agrimensor Maurílio. São dezenas e dezenas de relógios antigos que adornavam as casas antigas e marcavam as horas sertanejas de um tempo que parece mais lento. Mecanismos acionados por cordas e emoldurados por belas esculturas em madeira. Na parede da casa já não cabe tantos relógios maravilhosos. Ali um outro relógio raro que acompanha um calendário. Um outro belo relógio funciona com pilhas e os dias são marcados por laminas de aço que se sucedem.

Completa a coleção Mauriliana uma bela coleção de imagens sacras e outros objetos religiosos. Vitrolas antigas que ainda tocam discos 78 rpm. Teodolitos. Espingardas. Baús. Lanternas antigas a gás e muito mais objetos fazem parte de uma belíssima coleção de um grande gentleman e cultor das artes Um homem que vive o presente cultuando o passado e as horas das Aves- Maria.

Agradeço a generosidade do Maurílio e sua querida esposa, irmã do nosso querido amigo Avelino, pela bela oportunidade de conhecer um pouco mais a rica cultura sertaneja.

Para completar somos servidos de um bom café acompanhado do verdadeiro e único queijo de manteiga de Caicó.


Souza - O guardião da memória fotográfica.

O ex-soldado Souza é colecionador de um rico acervo de fotografias de personalidades e outras pessoas da sociedade caicoense. São muitas fotos organizadas em pastas de sacos plásticos que precisam ser melhores organizadas e arquivadas.

Grande parte da história de Caicó e seus protagonistas fazem parte do rico acervo coletados com muito amor pelo colecionador amador. Políticos, times de futebol e pessoas do povo fazem parte do acervo do Souza, que tive o privilégio de conhecer.

Tudo começou quando Souza ausente de sua cidade por longos anos, presenciou num lixo algumas fotos suas. Esse fato triste levou Souza a recuperar essas fotos e iniciar a sua prestigiosa coleção que resgata boa parte da história de Caicó desde o princípio do século XX. Muitas fotos foram copiadas de originais emprestados e outras foram resgatadas dos desvãos do tempo.

Sugeri ao simpático Souza que organizasse essas fotos numa publicação para a posteridade. O seu acervo daria um belo livro-álbum de fotografias de uma Caicó que precisa ser lembrada. Fotografias que contam uma belíssima história da grande civilização seridoense.

A Festa da Irmandade dos Negros do Rosário

No domingo 01 de Novembro de 2009 sai pelas ruas o cortejo da Rainha e Rei do Rosário acompanhado do seu séqüito de damas e corte. Um negro segura um toldo para abrigar os reis do congo. A rainha desse ano é uma senhora de pele clara que deve estar pagando promessa.

Os negros vestidos de calças e camisas azul e branco acompanham o casal real. Em seguida a banda galantemente vestida toca para alegria dos moradores e apreciadores. Emocionado sigo o cortejo até a Igreja do Rosário que espera a chegada dos reis para a grande celebração da missa das 10h. Fogos celebram o grande acontecimento. As primeiras cadeiras da bela Igrejinha do Rosário são reservadas para os negros que entram na igreja sob aplausos. Os negros portam lanças e dançam alegremente. A missa solene acontece acompanhada do belo hino da irmandade dos negros do Rosário.

No final da tarde toda a cidade aguarda para acompanhar ou saudar á grande procissão que segue novamente para a Igreja do Rosário onde será celebrada uma segunda missa, após a qual novo reinado será escolhido e o rei e rainha receberão as coroas e cetros, numa tradição que remonta ao século XVIII.

Nos dias que antecedem à grande festa dos Negros dos Rosário, eles saem pelas ruas e feira livre para angariar dinheiro e mantimentos.

Converso com seu Bonifácio que participa da festa há 60 anos. O historiador Muirakytan da UFRN/CERES de Caicó registra tudo em sua câmera fotográfica. Esqueci a minha máquina e registro o que a emoção permite numa bela e grande manifestação da cultura popular brasileira.

Essa festa é uma das mais saudosas recordações da minha mãe. Em cinqüenta anos volto á terra onde nasci e me batizei como quem volta pra casa. E fosse só por isso já merecia esse reencontro carregado da dor e alegria de poder estar vivendo um grande dia na historia de minha vida.

João da Mata Costa

Novembro 2009.

São Seridó Amado


Da Vila do Príncipe recebi o poema do caicoense João da Mata Costa, que publico abaixo:

Moxotó, camará, catingueira
Sustentam a vida
A chuva acorda a terra num
Odor de zimbro e chumbo
Meu sertão caritó
Serra Negra, Acari.
Caicó e Jardim do Seridó
Thomas- o filho - cronista
De homens-ferros,
Cachimbos, galegos
Judeus e Portugueses
A rede suspende a vida – letargia -morte
Meu avô morreu de cezão aos 33 anos
O bisavô mestre-escola
Minha avó dormia só uma madorna e
Faleceu de arteriosclerose.
Mamãe solidão
Vivendo estamos doendo
Não há fim para essa lembrança.
Engenho torto
Açúcar o sangue
Chouriço espécie
O sol a carne
Queijo de coalho e lingüiça
Fu-deu? Não, não foi Deus
Ninguém entende
Sefus gões
Quadrivium
Guerra - o Padre
Sant´anna; ensina
esse menino!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Carne de Sol



A culinária do sertão nordestino é bastante rica e variada, mas, sem dúvidas, a carne de sol é o prato mais apreciado na região e também o mais afamado fora dela. Juntamente com os queijos de coalho e de manteiga compõem os itens mais nobres do cardápio sertanejo. Os modos de preparo dos pratos são os mais diversos e a todo dia novas e criativas receitas são criadas. Mas, e a industrialização da carne? Será que a carne de sol que compramos no açougue é a mesma que se consumia no início do século passado? 

O processo de tratamento da carne provavelmente foi desenvolvido a partir da herança cultural dos colonizadores, já que os portugueses tinham a tradição de conservar alimentos perecíveis expondo-os ao sol (frutas) ou salgando-os (peixes e bacalhau). A paternidade da carne de sol é reinvindicada e dividida entre os estados do CE e do RN, porém, indubitavelmente, o Rio Grande do Norte conservou melhor a tradição, especialmente na região do Seridó. Mas será que a carne de sol que hoje consumimos preserva o seu modo de preparo original? Será que esse traço da cultura alimentar nordestina, que rompeu fronteiras e que hoje tem apreciadores em todo o território nacional, mantém a forma de manipulação da carne intacta? Não. Apesar da preservação do hábito, o modo de elaborá-la sofreu grandes modificações.


A carne de sol que se preparava no Seridó até os anos 60, tinha um rito bem mais demorado, que levava dois dias até ficar pronta para comercialização e consumo. Normalmente, o dia de abater o gado era 48 horas antes do dia da feira semanal do município. No caso de Acari (RN), isso se dava na madrugada da sexta-feira. Após a matança(1) , a carne era desossada, divididas em mantas (2) e posteriormente colocada em descanso até “esfriar”. Logo em seguida, as mantas eram cuidadosamente abertas(3) e salgadas. Conclusa a salga, eram enroladas no próprio couro da rês e lá permaneciam durante todo o dia da sexta-feira, salmourando(4). No decorrer do dia, o couro era eventualmente aberto para que as mantas fossem viradas e, em seguida, envolvidas novamente. À noite, as carnes eram retiradas do couro e estendidas em estacas firmadas sobre forquilhas, que eram chamadas de estaleiro, e lá permaneciam no sereno durante toda a noite e madrugada do sábado. Ao amanhecer, as carnes eram viradas no estaleiro onde passaram a noite e lá mesmo recebiam o sol da manhã, que era a fase final do processo. Em seguida, as carnes, já bem curadas e enxutas, eram retiradas do estaleiro e acondicionadas, enfardando-as em esteiras, de onde só sairia para o consumidor na manhã do dia seguinte, no domingo.

Hoje o processo se resume a salga, com um abreviado tempo salmourando, que se estende até a manhã do dia da matança. Logo em seguida a carne é imediatamente acondicionada em câmaras frias, para que não haja muita perda de peso com a desidratação pelo sal.

(1) Matança - Abate de gado. O chamado dia da matança é o dia da semana em que se costuma abater gado.
(2) Manta - Peça de carne inteira. No passado, o quarto traseiro do boi, de onde é retirada a chamada "carne de primeira", era dividida em apenas três mantas: Chandanca ou chá de fora (compreendia o coxão duro, lombo paulista e picanha), patinho (consistia no patinho propriamente dito, na alcatra e no contra-filé) e chã de dentro (Coxão mole e o filé). A única peça que era subdividida antes da salga era a chã de dentro, de onde era retirado o filé, que era conservado verde (sem sal) - único pedaço traseiro que não era salgado.
(3) Abrir a carne – Cortar o músculo bovino parcialmente, sem seccioná-lo totalmente, de modo que a manta fique mais fina. Depois a carne é novamente cortada, abrindo-se sucos para facilitar a penetração do sal.
(4) Salmourar - Ato de deixar a carne desidratando, "escorrendo salmoura" após a salga. Ao perder líquido, a carne não só fica menos perecível, como também concentra mais o seu sabor.

domingo, 1 de novembro de 2009

Lua - Alma Feminina



Lua linda, radiante 
Rasga o pano da treva
No firmamento eleva
Sua face deslumbrante
Satélite cintilante
Ilumina o terreiro
É a luz do candeeiro
Na escuridão soturna
Na cavalgada noturna
Orienta o vaqueiro


Passa por trás do coqueiro
Para inspirar o pintor
Que faz da arte, um louvor
A um encanto passageiro
No peito aventureiro
Planta e rega uma semente
E o sentimento latente
Se transforma em paixão
Acende no coração
A chama do amor ardente


Companheira complacente
Na noite de boemia
Realçando a melodia
Com um cenário reluzente
Um facho de luz tangente
Se transforma em palidez
Quando reflete na tez
Da musa que nos apraz
Poesia em carne se faz
Um sonho real se fez


Com sedutora avidez
Aconselha-nos a amar
Comanda a força do mar
Com soberana altivez
Porta de um céu cortês
Em qualquer fase fascina
Enfeitiçando a retina
A sua aura prospera
Por trás da beleza impera
Uma alma feminina


A natureza sublima
Força e sabedoria
Prega sempre a harmonia
Quando agredida, lastima
Valorizada , aproxima
Com grandeza preciosa
Bela, nua, graciosa
Nos envolve em seu manto
Com misterioso encanto
Brilha a lua majestosa


(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)