terça-feira, 27 de outubro de 2009

Braço Desarmado


O que fazer com um ser livre que tem um vício que provoca imenso desconforto ou até mesmo risco, aos que o cercam? O que fazer se ele não aceita tratamento, nem o estado dispõe do aparato prescrito admitido para o caso? O que fazer se o legislador vive em um "faz de conta", habitando um mundo diverso do real, em um pais que não é o Brasil, e que cria uma legislação muito bonita, mas absolutamente inexequível e inaplicável? Sigo esta linha de raciocínio, caminhando através de indagações, para retornar a primeira pergunta, reformulando-a de uma forma mais objetiva: O que fazer com um drogado perigoso, que não aceita tratamento?

Penso que o “braço desarmado” é sempre a primeira opção para a solução de qualquer problema ou conflito. Mas a sua ação é limitada. Muitas vezes se faz necessário o uso do “braço inclemente”, a força sem complacência que reduz o irredutível.

O desabafo do pai e poeta que dizia ontem (26/10), no Jornal Nacional, que tinha sido preciso que o seu filho cometesse um crime bárbaro, uma tragédia anunciada, para que o estado desse o tratamento que ele precisa - a privação da convivência social – foi muito forte. Seria muito bom que a morte da menina não fosse em vão. Seria muito interessante que deixassem de hipocrisia: o Brasil ainda não dispõe da estrutura necessária a implementação eficiente da atual legislação. A discriminalização do uso de drogas está deixando a população entorpecida e a polícia impotente, sem capacidade de reação. Fazer o quê? Esperar o drogado cometer um crime trágico para esboçar reação?
link da reportagem no site globo.com

Braço Desarmado

Faço parte do braço desarmado

Que refuta a injusta ação legal
Tem no bem, no bom senso e na moral
Substância assaz pétrea, bem sagrado

Faço parte do braço obstinado
Legião da inquietude abissal
Que evita o decurso temporal
Adotando um compasso apressado

E apesar de agir sem violência
É fiel a resposta veemente
Mas se mesmo assim lhe faltar fluência

Então venha o braço inclemente
Com a arma letal, sem complacência
E o mal necessário, eficiente


(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)


PS: Em junho deste ano já tínhamos abordado o tema através da postagem "drogas".

sábado, 24 de outubro de 2009

Espelho


Esta semana tive contato com um cliente e amigo que me relatava um infortúnio que passou. Como jovem e próspero comerciante, tinha – e ainda tem – um futuro promissor. Mas o ano passou, quando estava no seu estabelecimento comercial, foi vítima de um assalto e acabou sendo baleado com dois tiros. Uma bala causou poucos danos, mas a outra provocou sérias lesões no seu fígado, destruindo 80% do órgão. Recuperado da fase mais traumática e após passar por uma experiência de quase morte, ele me dizia:
“- Pedro: em determinados momentos da vida a gente dá uma grande importância a coisas fúteis; ficamos transtornados com bobagens; somos vaidosos e nos sentimos poderosos; mas é tudo ilusão. Nós não somos nada. A qualquer hora podemos perder tudo. Quando eu estava quase desenganado e me deparava com minha própria insignificância e impotência, a única coisa que eu me lamentava era de não poder ver meu filho crescer. As coisas mais relevantes das nossas vidas, muitas vezes não valorizamos ou não damos a importância devida. As vezes Deus permite que certas coisas aconteçam conosco, para que possamos crescer. Apesar de tudo que aconteceu, não guardo nenhuma revolta de nada e, ao contrário, sou muito grato por tudo. Além de continuar vivo, aprendi a valorizar as coisas importantes e desprezar as irrelevantes“


Espelho


No espelho contemplamos
A nossa própria imagem
Adorando a miragem
Da nuance que sonhamos
O vulto que enxergamos
Desprovido de defeitos
Configura um sujeito
Pleno, único, infalível
Fortaleza imbatível
Ser acabado e perfeito


O rio corre em seu leito
O sol distribui a luz
O aroma, a flor produz
A conduta atrai respeito
O amor jorra do peito
A paixão concebe o cego
No poema que navego
A rima norteia o verso
No centro do universo
Faz morada nosso ego


É sedução que renego
Achar-se grande em valor
Julgar-se superior
Não é ilusão que rego
No argumento que me entrego
Não somos absolutos
Temos saber diminuto
Sequer podemos dar crivo
Se ainda estaremos vivos
Em um súbito minuto


O mais sábio e astuto
Não dá vida a uma formiga
Dos bens que a ganância abriga
Temos só o usufruto
Ninguém possui um indulto
Garantindo a melhor sorte
Um futuro que conforte
É uma esperança acesa
Mas só temos a certeza
Da inevitável morte


(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Injusta Faceta



Não concordo muito com a cobrança excessiva que os veículos de comunicação fazem de uma polícia educada e cheia de boas maneiras para a abordagem de delinquentes. Outro dia passou uma reportagem - várias vezes e em todos os telejornais - de um flagra que alguns estudantes gravaram de uma ação da polícia.  Após passarem a noite incomodando o condomínio onde moravam e depois de várias ocorrências registradas contra eles, a paciência da polícia acabou e os agentes abordaram os provocadores com uma postura um pouco "intolerante".  Pronto. Isso foi o suficiente para gerar um verdadeiro linchamento público dos policiais.  Em momento algum os repórteres perguntaram aos vizinhos dos baderneiros, o que eles acharam da ação da polícia.  As imagens foram suficiente para todas as conclusões e, como era de se esperar, os "anjinhos" se tornaram as vítimas e a polícia, a grande vilã.


Ainda não começou, mas creio que brevemente deve se dar início a um outro linchamento, no caso, da polícia do Rio. Provavelmente deve haver alguma reação mais enérgica à guerra das gangues de traficantes do Rio - que culminou na queda do helicóptero da PM, matando três dos seus ocupantes - e o juizado sumário da imprensa já deve estar montado para condenar essas futuras ações. 


Como um rasgo de espora
Quando roda a roseta
Numa injusta faceta
Minha impaciência aflora
A realidade arvora
No pacato cidadão
Grande indignação
Vendo uma errante milícia
Encurralando a polícia
Sem nenhuma apreensão


Temendo a repercussão
Que haverá na imprensa
E a crítica intensa
Contra a corporação
Não se esboça reação
Que possa dar um sinal
Firme e proporcional
Sem dó e nem piedade
Contra a marginalidade
E o poder colateral


Se um nobre policial
Cumprindo a sua missão
Encosta um dedo da mão
No couro de um marginal
Causando-lhe qualquer mal
Ou o mais sutil dos danos
Logo, os Direitos Humanos
Na sua investidura
Denuncia a criatura
Tutelando o tirano


Queria que o franciscano
Que tem por ocupação
Dar proteção a ladrão
Acoitando o fulano
Como bom samaritano
Fizesse a mesma vigília
Visitando a família
Do pobre policial
Que foi vítima fatal
De uma nefasta quadrilha


Toda a força que pilha
O poder da autoridade
Alimenta a impunidade
Fortalecendo a guerrilha
Provocando o caos, fervilha
Põe fim a ordem, arrasa
A sociedade, atrasa
O pavor a faz refém
E muitos entes de bem
Se encarceram em casa


(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

domingo, 18 de outubro de 2009

Soneto da Quase Despedida



Na fronte pálida, a relutância
Brilho profundo em olhos rasos d'água
Lágrima mansa, coração deságua
Em gestos da mais nobre elegância

Na boca cálida, serena ânsia
Decepção, que o tempo não enxágua
Singela angústia, ofegante mágoa
Não há mais aquela rara fragrância

Palavras mudas, afagando a alma
Doce veneno de uma ilusão
Constrito epílogo, veladas palmas

Não houve amor, foi apenas paixão?
Subitamente esvai-se toda a calma
E um beijo ardente é mais que um perdão

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

PS: Este soneto já foi postado no dia 06/10, no blog do poeta Lívio Oliveira, a quem agradeço a generosidade e parabenizo pelo belo trabalho que vem desempenhando naquele espaço em prol da cultura potiguar.
http://oteoremadafeira.blogspot.com/2009/10/soneto-da-quase-despedida-poema-enviado.html

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Impossível

Antes que o céu desabe
Por sobre a sua cabeça
Antes que você padeça
Sem fazer o que lhe cabe
Antes que o temor acabe
Com um anseio fecundo
Tendo um trauma profundo
Por receio do impossível
Saiba que ele é o combustível
Que movimenta o mundo

Mergulhando em seus sonhos
Aprendeu a navegar
Desceu ao fundo do mar
Mesmo com pavor medonho
Enfrentando os seus demônios
Voou na imaginação
Inventando o avião
E numa vaidade sua
Decidiu chegar a lua
Só por pura obsessão

Não existirão fronteiras
Que jamais serão transpostas
Nunca faltarão respostas
Para indagações obreiras
As verdades passageiras
Ou permanentes tabus
Covardemente seduz
Levando a estagnação
E um véu de escuridão
Se põe em frente da luz

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Soneto do Trovão – Poder Prescrito


Ecoando de um raio sagaz
E irrompendo das nuvens, imponente
Amedronta a carne inocente
Sem sequer fissurar frágeis cristais

O rugido estridente é fugaz

Forte brado, lamento impotente
Um poder que já não se faz presente
O passado não guarnece bornais

O sucesso que o abandonou, só
Dissipou toda a glória no vento
Sua nobreza só vai lhe trazer dó

Aumentando a carga de tormento
Num reinado que há muito virou pó
Jaz um corpo que aguarda o seu momento

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Paredão


Parede do Açude Umari, em Upanema (RN) 

Paredão para mim é esse aí.  O resto é brinquedo que faz zoada e incomoda, de adolescente besta, que gosta de aparecer.


Hoje em qualquer cidade
Não há local de sossego
Na periferia ou centro
Não existe aconchego
A partir da invenção
Desse tal de paredão
Só quem dorme é morcego


É uma grande besteira
Procurar a autoridade
Hoje é um só delegado
Pra seis ou sete cidades
Com o carro indisponível
Por falta de combustível
Fica sem mobilidade


Certo dia, uma turma
Curtindo a sua noitada
Com um som amplificado
Em uma hora avançada
Certamente se lixando
Por se encontrar profanando
Uma norma que é sagrada


Um marchante diplomado
Pela escola da vida
Sendo aluno laureado
Sem matéria repetida
Vai pedir para baixar
Aquele som "de lascar"
Que incomoda a avenida


Precisando descansar
De uma labuta pesada
Querendo se recolher
Na sua hora marcada
Se depara com a conduta
Daqueles “felasdasputa”
Que deixa a rua acordada


Tinha uma moça magrela
Das pernas "fina" e zambeta
Parecia que sambava
Pilotando uma lambreta
Seu corpo foi inspirado
Num desenho inacabado
De um chassi de borboleta


Um macho da bunda grande
Dançava a quebradeira
Rebolando até o chão
Balançando as cadeiras
Vez por outra toca um funck
O nego dá um arranque
Feito um fusca na ladeira


O trabalhador cansado
Doido pra curtir seu sono
Se dirige ao quartudo
Que do paredão é dono
Antes, mesmo, de falar
Ouve: - Nem venha chorar
Meu sonzão eu não raciono


Paciência tem limite
E momento de acabar
De tanto pedir a eles
A fineza de baixar
Pensa: - Só podem ser loucos
Ou então devem ser moucos
Pra conseguir suportar


Depois de se rebaixar
Mesmo com toda razão
Se vê desmoralizado
O humilde cidadão
Decide fazer besteira
Puxando a faca peixeira
E empunhando o facão


Diz: - Mulher traga a bacia
Grande, de "aparar fato"
E a vara de virar tripas
Deixe que eu mesmo trato
O da bunda empinada
Vai virar uma buchada
É o primeiro que eu mato


O sujeito quando viu
O brilho da "lambedeira"
Suspendeu o rebolado
Disparou numa carreira
Quase que “arreia o barro”
Antes de saltar no carro
E engatar a primeira


Nem se lembrou que o reboque
Tava em mau posição
Com energia ligada
Através da extensão
Quando o carro disparou
O fio se esticou
Partindo a fiação


Foi fogo pra todo lado
Antes do som se calar
Na posição que estava
Não foi possível aprumar
O reboque capotou
O sonzão se espatifou
E a paz voltou a reinar


O restante da história
Nem precisa dar guarida
A “mundiça” se encantou
Ohh povo bom de corrida
Só a zambeta magrela
Que ninguém, depois, viu ela
Permanecendo sumida


Encontraram a menina
No terceiro amanhecer
Pense numa cena linda
Que só vendo, para crer
Aquele resto de feira
Trepada numa craibeira
Sem conseguir mais descer


(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)


A história toda é uma ficção, porém alguns termos são influenciados pela "lenda rural" narrada por Everaldo Cabeção e registrada por Jesus de Miúdo, em seu blog: http://acaridomeuamor.nafoto.net/photo20090724213939.html


Dedico ao acariense Everaldo esta postagem e me solidarizo com ele, pela perda do seu pai, Joaquim de Cristóvão, ocorrida esta semana.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Poesia



Confesso que, como aprendiz de poeta de cordel, só me sinto a vontade escrevendo com métrica e rima. Algumas vezes já ensaiei algo não metrificado, mas acaba não saindo nada. Ontem (06/10) tentei definir a poesia, buscando uma abstração maior, sem métrica e com uma rima menos rigorosa. Quando terminei, achei que tinha conseguido. Ledo engano. Relendo, vi que não tinha abstração nenhuma, pois em vez de poesia, eu tinha descrito uma mulher. E o poema acabou seguindo uma estrutura métrica sem obedecer nenhum padrão, mas com uma sequência lógica de rimas, sendo que os dois primeiros versos de cada estrofes tinha 4 sílabas poéticas e o último com 10 sílabas até a última tônica. Sei que pai nenhum vai achar seu filho feio, mas confesso que gostei: simples e charmosa.


És a poesia
Em versos curtos
Cabelos longos de pele macia


Há harmonia...
Cada palavra...
Em cada parte do corpo há encanto


Causa espanto
Palavras frias
Pura sinceridade indolente


Em versos quentes
Respousa a alma
Até na calma, jaz inconsequente


(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sabedoria do Sertanejo


Buscando conhecimento
Perguntei ao sertanejo
Observador constante
Não vive só de lampejos
- Onde está a fortaleza
Das forças da natureza?
Ele disse: - No Desejo


- Para conter uma moça
Nem a muralha da china
- Nada inibe o alpinista
Nem a mais alta colina
- A própria água do rio
Vence qualquer desafio
Até o mar, sua sina


Vendo que ele filosofa
Quis ouvir seu coração
Perguntando ao sujeito
A sua percepção
Procurei ser mais profundo:
- Que você acha do mundo
E da civilização ?


- O mundo é um presente
Perfeito que Deus nos deu
- O homem o mais perverso
Vivente que já nasceu
- Essa tal humanidade
Com Seu Filho foi covarde
Mas por ela, Ele morreu


Confesso, dei um suspiro
Diante da sapiência
Resolvi explorar mais
A profunda inteligência
Indagando ao cidadão
Sua maior ambição
Que fascina a existência?


- Depende da referência
E individualidade
- O sonho para alguns
Não é unanimidade
- Uma chuva no sertão
E um prato de feijão
Bastam a minha vaidade


E eu achando que um carro
Ou um bonito aposento
Pra quem mora num casebre
E viaja num jumento
Era o sonho de consumo
Mas sua ambição, presumo
Só Deus dá o provimento


(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Mulher


Foto: Aldo Medeiros

A árvore florida é um Pau D'arco ou Ipê Roxo. Para mim, a mais bela e exuberante florada da nossa rica vegetação. Um verdadeiro espetáculo da natureza: algo que se assemelha a beleza feminina.


E os céus se fez mulher
E a mulher, o paraíso
O brilho intenso da vida
Divino encanto, preciso
A beleza feminina
Minha existência domina
Sem ela, eu agonizo


Sua ausência, exorcizo
Em uma tênue lembrança
Viajando no teu ser
A minha angústia descansa
Sem a sua companhia
A mais cruel agonia
No meu coração se lança


A cumplicidade mansa
É presença preciosa
O mais encantado ser
É a alma graciosa
Que segura a minha mão
De dentro do coração
Faz carícia generosa


(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A Manhã...


Foto: David Clemente

A manhã, fria, reluz...
Primeiros raios do sol
Libertando do anzol
Do coma que a noite induz
Um dia novo conduz
A procurar pela glória
Uma nova trajetória
Pra poder sair da lama
Comece fora da cama
A reescrever a história

A manhã, fria, reluz...
Instiga o ser inventivo
A um dia produtivo
Que limpe da alma, o pus
Retirando o capuz
Que cobre o olhar descrente
Melhor um calo na mente
Que um juízo mofado
Cada dia é um legado
Sem valor equivalente

A manhã, fria, reluz...
Que tal um beijo no filho?
Ou enxergar todo o brilho
Que a sua mãe produz?
Que tal pegar sua cruz
Que puseste noutras costas?
Dando a firme resposta
Que o destino aguarda
Para pôr em sua farda
A medalha que lhe arrosta

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

domingo, 4 de outubro de 2009

Soneto da Mulher Poderosa



A mulher poderosa catequiza
Simulando uma frágil condição
Quando, enfim, dominar o coração
O errante liberto, escraviza

Com magia sutil, hipnotiza
Guarnecendo de asas, a ilusão
Interpreta falsa submissão
E o indomável ser, imobiliza

Faz do homem, sua propriedade
Pilha o corpo, a alma, o lazer
Mas que graça teria a humanidade?

Sem mulher, esse tão sublime ser?
Uma vida com total liberdade
E nenhuma razão para viver

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

sábado, 3 de outubro de 2009

Vida Alheia


Por falta de criatividade, não consegui selecionar nenhuma foto para ilustrar a "Vida Alheia", então resolvi colocar o jumento Felipão.

Você deve está pensando: - O que é que um jumento tem a ver com a vida alheia??? Rigorosamente nada, a não ser por se tratar de um personagem da vida interiorana. Mas, o que é que as pessoas tem a ver com a vida dos outros??? Também, nada. Beleza!!! Então Felipão e a "Vida Alheia" já tem algo em comum. Segundo ponto comum: É aconselhável não se meter com nenhum dos dois. Mas... ...se é de você se meter com Felipão, prefira a vida alheia.

No pacato interior
A vida mansa norteia
Dia-a-dia sem estresse
O sossego encandeia
Mas o lazer principal
Presente em qualquer local
É falar da vida alheia

Não importa quem falseia
Nem se saga é verdadeira
Precisa ser criativa
E sendo a versão primeira
Chamará a atenção
Provocando sensação
O mote sobe ladeira

Se a mulher é chifreira
Quem paga é o marido
Enfeitado, rotulado
Cabisbaixo e sofrido
O chifre ainda tá morno
De qualquer forma é corno
Brabo, manso ou ferido

Maxixe é seu apelido
Por ser, a moça, festeira
Incomodaria menos
Sua orelha na fogueira
Dizem que nasceu vadia
E o seu fogo já ardia
Queimando as mãos da parteira

Uma língua fuxiqueira
Faz um estrago danado
Quando faz o julgamento
De um garoto delicado
Não tendo nenhuma dó:
- Criado pela avó
- Só podia ser viado

Contando a quem tá do lado
Solta logo uma bravata
Diz: - Aquela moça velha
- Figurinha caricata
- É chata por ser solteira ?
- Ou, por só falar besteira
- É solteira por ser chata?

Até o amigo destrata
Quem gosta da falação
Se o sujeito compra um carro
Começa a especulação
Diz que está enricando
Que leva a vida roubando
Seu lugar é na prisão

Quando há repreensão
Ao pensamento fecundo
Não aceita o conselho
Se defende em um segundo
Dentro da cabeça dele
Todo o mundo é contra ele
E ele é só, contra o mundo

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Soneto da Impaciência


Paciência é o caminho mais prudente
Decisão racional, resignação
Mas meu sangue não quer ponderação
Tem uma forma de agir inconsequente

A cautela é um traço ausente
Passional, o impulso rege a ação
A espera é inclemente prisão
Uma omissa postura conivente

Quando calo, não é consentimento
É porque não me cabe decidir
A postura velada é um tormento

Impotência cruel de reagir
Eu prefiro o mais rude enfrentamento
Que a atraente opção de fugir

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Galo de Campina


Só olhando com bastante atenção para o centro da foto, um pouco para baixo, será possível enxergar um galo de campina pousado na jurema. A foto foi feita em uma madrugada fria de julho e se deu depois de muita procura. Encontrava-me no sítio, em Acari, selando os cavalos, acompanhado pela trilha sonora matinal da passarada. Mas havia um solista em destaque naquela orquestra alada. Então perdi (ganhei) uns 15 a 20 minutos procurando o pássaro escondido na penumbra do amanhecer, até conseguir registrá-lo neste flagrante.

Galo de Campina canta
Canta a beleza em cores
Cores realçando a vida
Vida ungida de louvores
Louvores que lava a alma
Alma cheia de amores

Galo de Campina canta
Adornando o alvorecer
Encurta o dia longo
Ornamenta o entardecer
Um instrumentista solo
Um abençoado ser

Galo de Campina canta
Dotes que não são só seus
Nunca esteve em aulas
Nunca frequentou liceus
Mas no seu canto se exprime
O timbre da voz de Deus

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)