sábado, 9 de março de 2013

Seca e desprezo


Ontem (08/03) recebi uma ligação de Acari, do meu morador, dando-me notícia que mais duas vacas tinham morrido. Passando detalhes da situação, ele me dizia que o que ainda restava da vacaria, tá se levantando com dificuldade. Não tendo mais o que fazer, pois já fui além das minhas possibilidades com relação aos gastos para escapar o rebanho, ofereci a ele (o morador), a semente de gado que ainda resta, por um preço que não tinha condições de fazer mais barato: dado. Dei o gado pra ele tentar escapar, já que preferia ver o rebanho em boas mãos, que vender por preço vil. Mas ele não quis. É triste! Mesmo a troco de nada, o ônus ainda era alto. Não se via em condições de enfrentar a tarefa.

Graças a Deus sou um privilegiado, pois apesar de gostar muito do campo, não dependo dele pra viver. Mas fico imaginando a situação dos que não tem outro meio de vida. Refiro-me principalmente aos que não são pronafianos, pois esses contam com a tutela do estado. Falo dos que não têm outro ofício e vivem exclusivamente do campo. Para esses, a situação é de quase mendicância. Ver tudo que conquistou em uma vida de trabalho, ser consumido pelo chão tão amado, é desesperador!

Não lembro de uma seca tão severa, onde tenha havido tamanho desprezo dos entes públicos pelo homem do campo. Parece que há um compromisso tácito de silêncio. Ninguém sequer se pronuncia. Além da inexistência de atitude, há um amplo e abrangente acordo de todas as correntes políticas, integrando situação, oposição, direita, esquerda, centrão, ditadores, democratas, comunistas, liberais... enfim, todos. O PT se coligou com o PSDB nessa empreitada. A classe política toda, mais os órgãos públicos de todas as esferas, unidos em torno do desprezo ao sertão nordestino. Pra completar, a imprensa que faz uma cobertura magnífica da vida de meia dúzia de imbecis trancados dentro duma casa - para milhares de antas que apreciam a programação - vira as costas para a cobertura jornalística da calamidade. 

Que Deus seja generoso no socorro ou piedoso na sentença, pois ao lado do sertanejo, Ele é o único.

Nenhum comentário:

Postar um comentário