sábado, 7 de novembro de 2009

São Seridó Amado II



Igreja do Rosário de Caicó (RN)

Após a postagem do poema do poeta Da Mata, encaminhei um email para ele indagando alguns detalhes da sua composição, que, devido a minha ignorância, não compreendi. Então o amigo me respondeu com o email abaixo e, de quebra, anexou um texto muito interessante sobre a sua ida a Festa do Rosário de Caicó, deste ano. Em itálico segue o email explicando detalhes do poema e, na sequência, o referido texto ipsis litteris:

Caro Pedro,

Cezão é como os antigos conheciam a malária. Meu avó morreu dessa doença. Meu bisavô foi mestre escola em Caicó. O mestre Escola era um professor que ia ensinar nas fazendas . Um professor ambulante. O quadrivium do latim eram as quatro disciplinas ensinadas antigamente, aritmética, geometria, astronomia e música. Formava com o trivium, gramática, lógica e retórica, as sete artes liberais que precisava ser aprendida para ser considerado culto. "Sefus gões" é uma expressão latina que vi gravada num quadro e é uma homenagem ao padre Guerra.


Abraço,


João da Mata Costa
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Viagem à Vila Nova do Príncipe

Cinqüenta Anos depois


Para Moacy e Edjane


Da Festa do Rosário, Bar do Ferreirinha, Personalidades, Amigos e outras matérias.

“Da Mata é o Físico João / Faz do Mister o Amor”.

(Lula Pneus)

Bar do Ferreirinha 50

Em cinqüenta anos a volta. Saí de Caicó com um ano de idade numa festa de do Rosário e volto cinqüenta anos depois. Uma volta para a mãe-terra. Para o útero. Tudo é envolto num mar de significados para além do que posso escrever.

Encontro sem combinar com o meu querido tio José Paulino – Zé Baixinho, irmão da minha querida mãe. Encontro Zé Romão nos seus mais de oitenta anos. Chapeleiro antigo e amigo íntimo de papai morto precocemente.

Logo ao chegar ao Bar do Zeca Barrão encontro o famoso Bibica. Nosso candidato a governador. Quem não for babaca vota Bibica. Bibica acompanhado de um bode vende a rifa (mais uma) que sortearia o famoso animal-símbolo do sertão nordestino.

Bibica é querido de todos e está em toda parte. No outro dia Bibica está de paletó para cumprimentar seus eleitores e tirar fotos com os seus muitos admiradores.

O filho do Dinarte Mariz, o ex-reitor da UFRN Geraldo Queiroz, políticos e vereadores, professores e populares estão presentes na festa de lançamento do livro.

Outra grande figura que tive o prazer de conhecer foi o comediante Silva – Cover do Chico Anysio. Artista que esteve entre os 10 melhores do Faustão. Simpático sempre fazendo muganga com a boca e língua.

O lançamento foi um sucesso. Livro-homenagem aos 50 anos do bar do Ferreirinha, o mais tradicional de Caicó- RN. Um livro-álbum de fotografias numa justa homenagem ao bar e seu proprietário, para ciúmes do Zeca Barrão cujo bar vizinho-esquina faz encontro de cadeiras com o bar do Ferreirinha.

Estão de parabéns os autores do livro Roberto & Pituleira e o editor Abimael. São vendidos mais de uma centena de livros numa festa que durou o dia inteiro. Só interrompida para a passagem da procissão do Rosário. Animou a festa a Banda de Música Recreio Caicoense seguida por uma animada roda de samba. Dei uma canja e dancei acompanhado da grande musa da festa, a bela atriz Nina.

Ferreirinha e Anchieta, o primeiro cliente do bar - também autografaram o livro. Não faltou quase ninguém no lançamento-festa. Muito sentida foi a ausência do Moacy, mentor e prefaciador do livro.

Um grande abraço para o amigo Lula Pneus com quem tive o privilégio de conversar pessoalmente, e recebi de presente um lindo poema cujo mote é a epígrafe desse artigo.

Parabéns ao Souza por nos mostrar seu acervo de fotos antigas de Caicó e seus habitantes ilustres.

O mestre de cerimônias da festa foi o grande comunicador Pituleira.

Para completar o dia-banquete de emoção e resgate, encontro na noite Caicoense, a grande cantora Dodora e a amiga Edjane. É demais para o meu coração.

Em cada habitante um rastro. Na aspereza do ar, a rispidez da falas o orgulho do seridoense. O presente grávido do passado nutre uma grande alegria de poder estar vivendo esse momento de grande riqueza biográfica em meio século de existência.


Outras Personalidades


A casa do Passarinho Avelino

Avelino é um amigo de sempre. Fico em sua casa que é como um coração – atelier- floresta – gaiola aberta de sonhos. Em cada canto uma obra de arte da Ave-Linho.

Um quadro abstrato é uma das ultimas obras do artista. Quadro inspirado nas cercas de pedras caicoenses recebeu o título de “priquito atravessado”.

Ali adiante duas caixas de ovos pintados pelo artista passarinho. São seixos rolados de um rio que flutua feito uma rosácea-cera, ou seria Papai Noel.

Maurílio – O guardador das Horas

Na sua casa-museu guarda o tempo o agrimensor Maurílio. São dezenas e dezenas de relógios antigos que adornavam as casas antigas e marcavam as horas sertanejas de um tempo que parece mais lento. Mecanismos acionados por cordas e emoldurados por belas esculturas em madeira. Na parede da casa já não cabe tantos relógios maravilhosos. Ali um outro relógio raro que acompanha um calendário. Um outro belo relógio funciona com pilhas e os dias são marcados por laminas de aço que se sucedem.

Completa a coleção Mauriliana uma bela coleção de imagens sacras e outros objetos religiosos. Vitrolas antigas que ainda tocam discos 78 rpm. Teodolitos. Espingardas. Baús. Lanternas antigas a gás e muito mais objetos fazem parte de uma belíssima coleção de um grande gentleman e cultor das artes Um homem que vive o presente cultuando o passado e as horas das Aves- Maria.

Agradeço a generosidade do Maurílio e sua querida esposa, irmã do nosso querido amigo Avelino, pela bela oportunidade de conhecer um pouco mais a rica cultura sertaneja.

Para completar somos servidos de um bom café acompanhado do verdadeiro e único queijo de manteiga de Caicó.


Souza - O guardião da memória fotográfica.

O ex-soldado Souza é colecionador de um rico acervo de fotografias de personalidades e outras pessoas da sociedade caicoense. São muitas fotos organizadas em pastas de sacos plásticos que precisam ser melhores organizadas e arquivadas.

Grande parte da história de Caicó e seus protagonistas fazem parte do rico acervo coletados com muito amor pelo colecionador amador. Políticos, times de futebol e pessoas do povo fazem parte do acervo do Souza, que tive o privilégio de conhecer.

Tudo começou quando Souza ausente de sua cidade por longos anos, presenciou num lixo algumas fotos suas. Esse fato triste levou Souza a recuperar essas fotos e iniciar a sua prestigiosa coleção que resgata boa parte da história de Caicó desde o princípio do século XX. Muitas fotos foram copiadas de originais emprestados e outras foram resgatadas dos desvãos do tempo.

Sugeri ao simpático Souza que organizasse essas fotos numa publicação para a posteridade. O seu acervo daria um belo livro-álbum de fotografias de uma Caicó que precisa ser lembrada. Fotografias que contam uma belíssima história da grande civilização seridoense.

A Festa da Irmandade dos Negros do Rosário

No domingo 01 de Novembro de 2009 sai pelas ruas o cortejo da Rainha e Rei do Rosário acompanhado do seu séqüito de damas e corte. Um negro segura um toldo para abrigar os reis do congo. A rainha desse ano é uma senhora de pele clara que deve estar pagando promessa.

Os negros vestidos de calças e camisas azul e branco acompanham o casal real. Em seguida a banda galantemente vestida toca para alegria dos moradores e apreciadores. Emocionado sigo o cortejo até a Igreja do Rosário que espera a chegada dos reis para a grande celebração da missa das 10h. Fogos celebram o grande acontecimento. As primeiras cadeiras da bela Igrejinha do Rosário são reservadas para os negros que entram na igreja sob aplausos. Os negros portam lanças e dançam alegremente. A missa solene acontece acompanhada do belo hino da irmandade dos negros do Rosário.

No final da tarde toda a cidade aguarda para acompanhar ou saudar á grande procissão que segue novamente para a Igreja do Rosário onde será celebrada uma segunda missa, após a qual novo reinado será escolhido e o rei e rainha receberão as coroas e cetros, numa tradição que remonta ao século XVIII.

Nos dias que antecedem à grande festa dos Negros dos Rosário, eles saem pelas ruas e feira livre para angariar dinheiro e mantimentos.

Converso com seu Bonifácio que participa da festa há 60 anos. O historiador Muirakytan da UFRN/CERES de Caicó registra tudo em sua câmera fotográfica. Esqueci a minha máquina e registro o que a emoção permite numa bela e grande manifestação da cultura popular brasileira.

Essa festa é uma das mais saudosas recordações da minha mãe. Em cinqüenta anos volto á terra onde nasci e me batizei como quem volta pra casa. E fosse só por isso já merecia esse reencontro carregado da dor e alegria de poder estar vivendo um grande dia na historia de minha vida.

João da Mata Costa

Novembro 2009.

Um comentário:

  1. É uma cidade linda! Sempre gostei de fotografar igrejas.E a festa da padroeira daí, é bem falada, tem a noite dos "Coroas"... Abç

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