A foto foi tirada próxima à parede de Gargalheira, na noite em que o açude começou a sangrar. O animal era imenso, do tamanho de um paralelepípedo e me chamou atenção. Então resolvi fotografar esse personagem que é sempre tão estigmatizado e injustiçado. Ao contrário da maioria das pessoas, sempre simpatizei com a espécie e volto a citar o meu saudosa avô Manoel José Fernandes, o Seu Bilé, como responsável por essa afeição pelo animal. Lembro a forma sempre respeitosa que ele tratava o anfíbio e o vi, muitas vezes, repreender pessoas que judiavam deles. Outro dia, conversando com Dona Bel, minha mãe, ela relembrou um fato ocorrido, em que o injustiçado foi protagonista e passarei a narrar de forma breve.
No final de uma seca vivenciada em tempos remotos, já próximo ao início do período das chuvas (se é que elas viriam), Seu Bilé (meu avô materno) mandou que cavassem uma cacimba para a bebida do gado. Infelizmente ela não deu água, mas o grande buraco ficou aberto e exposto. Vieram as chuvas e ele se encheu, servido de viveiro para os girinos. Só que, por se tratar de um buraco íngreme, após a metamorfose, os anfíbios não conseguiam sair. Então seu Bilé mandou que colocassem estacas para servir de escada e os sapos que lotavam a cacimba pudessem subir. Ele o fez despretenciosamente, só por piedade dos animais. Mas naquele ano, a lagarta atacava implacavelmente a babugem e os roçados de algodão. O que se sucedeu e que Seu Bilé, vez por outra, nos contava, foi que os sapos libertos travaram uma batalha acirrada com a praga instalada, debelando o ataque e literalmente salvando a lavoura.
Nascido pra ser cantor,
Trabalhar, fazer o bem
Só a beleza, não tem
Nem seu corpo tem calor
Mas é um ser de valor
Que trabalha a noite inteira
Combatendo na trincheira
Qualquer inseto ou praga
Sua língua é uma adaga
De estocada certeira
Na noite faz sua feira
Sem cochilar um segundo
Faz a faxina do mundo
Sem parar ou fazer cera
De dia tá na ribeira
Ou dormindo na lagoa
Na hora quente se amoa
Espera a noite chegar
Para logo trabalhar
Quando chega a hora boa
Não tem pressa e não voa
Mas é bicho eficiente
Passando a sua frente
Sua língua não perdoa
Rapidamente arpoa
Como o laço de um vaqueiro
Eficiente e certeiro
Se ele pegar, não solta
Com a língua dá uma volta
E recolhe-a ligeiro
Tem um bicho traiçoeiro
Que vive na covardia
Por ter-lhe antipatia
Sem motivo verdadeiro
Quando pega, no terreiro
Bota brasa a sua frente
Para engolir, de repente
E gozar da sua dor
Matando o trabalhador
Por ele ser diferente
Não comendo a brasa ardente
Não está salvo do mal
Pois podem colocar sal
Atitude inclemente
Matando o pobre vivente
Que já nasceu condenado
Mesmo não sendo culpado
Um juiz sem coração
Executa sem perdão
Seu algoz é um desalmado
Ser feio e malamanhado,
Estranho e diferente
É o pecado desse ente
Para ser discriminado
Cruelmente desprezado
Sem nada que justifique
Que alguém lhe crucifique
Só por não portar beleza
Faço a sua defesa:
Não o judeie, não o sacrifique
(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)
Muito bom!!!!!!! Adorei!!!!!!!
ResponderExcluirum abraço,
Maria Maria
Legal a colocação do bem que o sapo pode fazer, combate as pragas/insetos, as palavras pode ser associadas a bicho homem, principalmente nas pessima mania que temos de ser "Juiz sem coração - Executa sem perdão", Mas umka vezes Parabéns!!! pela palavras e analise. abraço Ielton
ResponderExcluirPode ser que depois dessa poesia, as pessoas que frequentam seu blog e não admirem o pobre coitado, vão pensar duas vezes antes de condená-lo. Até eu vou me esforçar pra isso.
ResponderExcluirAdoro suas poesias quando elas ressaltam as maravilhas da natureza.
Adorei mesmo!!!!
Kallyana