sexta-feira, 10 de abril de 2009

Ônus Profano



Como em um breve aceno
O verde logo amarela
Se despedindo, sem trela
Folhas caem no terreno
Parece tomar veneno
A vida se dilacera
Quando a aridez supera
Transformando em deserto
Mesmo estando liberto
A seca nos encarcera

Esse tempo que impera
Na maior parte do ano
Aleija de qualquer plano
O fraco se desespera
O vento que vocifera
Carregando a umidade
Também leva pra cidade
Quem não suporta o sufoco
Entre espinhos e tocos
É dura a realidade

Indescritível maldade
Se faz com o trabalhador
Mutilado do labor
Perde a dignidade
Vivendo de caridade
Da esmola oficial
O Governo Federal
Em vez de a vara lhe dar
Ensinando a pescar
Já dá o peixe com sal

Dar-lhe bolsas é um mal
A esmola desapruma
O sujeito se acostuma
Com um vício amoral
Esse é o seu final
Passa a estorvo humano
Um problema suburbano
Quem plantou e produziu
Alimentou o Brasil
E hoje é um ônus profano

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

PS: Peço desculpas aos frequentadores deste espaço para colocar o quadro "Retirantes", de Portinari, com um poema meio fora de propósito, em um ano que promete ser de fartura. Mas
é que acho esse momento oportuno para uma reflexão sobre o que está por vir e o que foi feito para mudar o futuro. Será que o Nordeste vai ser perpetuamente condenado a "ônus profano"
do Brasil e a única coisa a ser feita é a distribuição de bolsas?

2 comentários:

  1. É Pedro. Nossa população está virando refém de programas assistencialistas denominados “bolsas”. Onde, realmente, é preferível dar o peixe pronto ao invés de ensinar a pescar, acomodando o cidadão que muito mais obteria se pescar soubesse.

    Parabéns pelas poesias, siga em frente que talento não falta...

    Feliz Páscoa!!!

    ResponderExcluir