sexta-feira, 22 de maio de 2009

Ensaio Sobre a Loucura


Esse ministro deve ser louco


Já esse deve ser são

Onde mora a loucura? Parece ser uma indagação que merece uma resposta simples e óbvia, mas andei procurando respondê-la e não consegui sequer uma aproximação. No ceticismo consciente ou na indignação juvenil? Na aceitação da legalidade amoral ou na recusa à licitude injusta? Na tolerância conivente com o repugnável ou na repulsa veemente diante das posturas não éticas? Na indiferença pragmática ou na entrega a uma causa "impossível"? No padrão promíscuo ou simplesmente na fuga do padrão?

A definição convencional da loucura me parece mais um rótulo, uma pecha colocada naquele que ousa fazer algo que falta coragem aos "são", um fardo a mais para ser carregado por quem já se encontra com um peso demasiado nas costas, próprio das causas nobres. É mais fácil taxá-lo de louco, que fazer o que foi ousado por ele. Ocupar aquela trincheira fétida? De jeito nenhum. Andar descalço, num caminho sinuoso de espinhos? Nem pensar. Então, já que falta coragem aos "são", até mesmo para um apoio moral, é mais fácil ironizar e ridicularizar, encobrindo, assim, as suas frustrações e os seus temores. Vale tudo para esconder que a sua própria luz é opaca. Até mesmo, apagar o brilho das estrelas e das constelações.

Os "sãos" são "sabidos", "vivos", "espertos", podendo ter ou não escrúpulos. Os "loucos" são "bestas", "sonhadores", "otários", que são capazes de passar por cima de tudo, menos dos seus princípios e dos seus ideais. Os "sãos" podem até sonhar com um mundo melhor, mas jamais serão capazes de mover uma única palha para isso. Só os "loucos" buscam a realização dos sonhos ditos impossíveis, mesmo que para isso custe a humilhação e a indiferença, obstáculos mais difíceis, dentre os muitos que terá de transpor.

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

2 comentários:

  1. Infelizmente os "Loucos" não são escutados neste país, por isto só muda para pior do que é, ou cabra macho o "louco" acima. abraço Ielton

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  2. É amigo Pedro, prefiro ainda ser "louca" a ter que abrir mão dos meus ideais, do correto, dos sonhos. Excelente texto! Parabéns! Abraços
    Célia Medeiros
    Mossoró-RN

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