De férias em Acari, tenho passado mais tempo no sítio que na cidade. A zona rural está mais bela que nunca. O verde proporcionado pelo excepcional ano de inverno é como o nascimento de uma criança, que apaga da mãe toda a dor do parto, no caso, a dor da seca.
Não sei se é impressão minha ou se é o passar dos anos que desperta em nós uma maior sensibilidade às belezas que nos rodeiam, mas o fato é que me ocorre a nítida percepção que a vida tem explodido, ressurgindo das cinzas, no ambiente hostil dessas paragens do semi-árido nordestino. Tenho percebido uma população cada vez maior de pássaros colorindo os nossos céus sempre tão ensolarados. Galos de campina, concrizes, periquitos e muitos outros têm se mostrado aos bandos, numa sinfonia de cor e canto que encanta e apascenta. Ontem (14/07), ao entardecer, quando retornava do sítio, deparei-me com uma sariema (“seriema” não me agrada, soa estranho, como se fosse um outro animal) na estrada e, por sorte, andava com a câmera que fiz o registro de dentro do carro, mesmo com pouca qualidade, mas representativo de um testemunho da manutenção da vida. Há algum tempo atrás, encontrar uma sariema em um local que não fosse remoto e completamente desabitado, era algo muito raro. Hoje é muito comum ouvir o seu canto, mesmo em locais relativamente próximos da "vida cilizada".
Não sei se essa constatação decorre da atuação mais contundente do Ibama ou da consciência ambiental que começa a ganhar vulto ou dos últimos anos de bom inverno ou desses fatores todos somados, opção que julgo mais pertinente. Mas acho louvável o rigor na atuação dos órgãos públicos de proteção à natureza e rogo para que cada vez mais essa atuação imponha medo aos agressores da nossa frágil e agonizante fauna.
O CaçadorTanto faz, se a arma é um cachorro
Se é branca, de fogo ou baladeiraCaçador é um poço de asneira
Contra ele eu elevo o meu desforroQualquer um bicho bruto, eu socorro
Mas sendo um caçador, pego e amarro
Predador racional, se nele esbarroPiso em cima, esculacho e esmurro
Eu espanto, recanto e empurro
Tiro sarro, critico e escarro
Passando num roçado ele se apeiaA fartura que existe não escapaSe não der pra levar, guarda o mapaE no dia seguinte surrupeiaCom o suor dos outros faz a ceiaDo trabalho alheio se apossaVai tomando de conta, toda a roçaFazendo sua feira, sem demoraMelancia madura, ele devoraNão estando no ponto, ele destroça
Se encontra um açude no cercado
Analisa se o peixe é abundante
Se o local é escondido ou distante
Sendo assim já o deixa reservadoVem à noite e leva o pescadoPara trás fica o rastro de arruaça
Um cabrito no mato, vira caçaO arame da cerca, ele folgaVida fácil, desordem lhe empolga
E o furto que fez vira cachaça
Sou pacato, não quero confusãoDe confronto, eu só quero distânciaMe afasto de qualquer arrogânciaMas quero muito vê-lo na prisãoMinha ação é uma tênue ilusãoTudo que nos meus versos relateiO que disse que faço, não farei
Se fizer, vai ser só em pensamento
Sonhando me livrar desse tormentoCaçador? Ou é um fora da lei?
(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)
Esse contato com a natureza, faz um bem enorme. Tira o estresse, revigora o corpo e o espírito, além de inspirar lindos textos como estes.Ah,quando a maioria das pessoas tiverem uma consciência semelhante a sua, respeitando e amando o planeta, teremos aqui um paraíso. Vamos pelo menos sonhar.
ResponderExcluirBoas férias!
Grande abraço,
Célia Medeiros
Adorei passear por seu blog nestes últimos dias e ver como a cada dia mais as poesias ficam melhores. O modo como você expressa a realidade que nos aflige, as drogas, o tempo que passa tão rápido, a natureza (e os que fazem questão de destruir a natureza) a cultura; a região seridó que você descreve tão bem. É uma sala de aula onde aprendemos de tudo um pouco; eu mesmo já aprendi muito.
ResponderExcluirContinue assim. Mais uma vez, Parabéns.