terça-feira, 14 de julho de 2009

Burro Mulo


O animal acima é um muar excepcionalmente raro e belo, de quatro meses de idade. Trata-se de um burro mulo gazo, ou seja, albino, que além dessa alteração genética na pigmentação, ainda tem um sinal frontal branco na cabeça (careto) e um outro sinal preto próximo à orelha.


O burrinho brincando com um outro muar de pigmentação convencional, para comparação.


A criaturinha desfilando no campo.

A história do desbravamento do interior do nordeste brasileiro está intimamente relacionada com o uso de muares (burros mulos) e asininos (jumentos). Esses animais foram utilizados pelos primeiros colonizadores para o transporte de cargas e de pessoas em direção aos sertões mais longínquos. Como as terras mais próximas ao litoral eram bastante férteis e adequadas ao cultivo da cana-de-açúcar, base da economia mercantilista da época, a coroa proibia a criação de gado próximo a faixa litorânea, restando as áreas menos férteis e mais áridas do interior, para o criatório de gado.

Num primeiro momento, além das condições naturais adversas, a presença indígena hostil praticamente inibiu qualquer movimento mais efetivo de povoamente. Porém, após a Guerra dos Bárbaros, batalha que culminou na quase extinção das populações indígenas, o Seridó Potiguar se tornou destino de um movimento migratório de colonização mais abrangente. Não só o transporte de pessoas e de mercadorias passou a demandar a força animal: o manejo dos rebanhos bovinos e a necessidade da tração animal para a construção dos primeiros reservatórios de água que amenizariam os efeitos das secas, demandaram animais fortes e resistentes ao clima e a seca. O jumento e o burro, com suas características de rusticidade e força, adaptaram-se perfeitamente a essas situações e passaram a fazer parte do cotidiano do nordestino, seja como veículo de transporte ou como ferramenta de trabalho. Os viajantes, os tropeiros, os tangerinos se utilizavam deles para os extensos e inóspitos percursos trafegados, transportando gado, mantimentos ou simplesmente pessoas.

Com o passar do tempo, com a automação e a modernização, o jumento passou a ser muito menos útil. Porém, o burro mulo continua extremamente importante no manejo bovino e no transporte nas propriedades rurais, sendo muito valorizado e reconhecido pela sua utilidade, situação que não abrange a espécie asinina. Infelizmente é muito comum ver animais da espécie desprezados às margens das rodovias.

PS: O muar ou burro mulo é fruto do cruzamento de duas espécies distintas: o jumento ou asinino, com o cavalo ou equino. O resultado do cruzamento é um híbrido infértil que reune as características de velocidade e versatilidade do cavalo, e a resistência e rusticidade do jumento.

Um comentário:

  1. Pedro, passar por aqui, é garimpar conhecimento. Seu texto é uma verdadeira aula. Excelente!
    É verdade, se vê inúmeros jumentos transitando livremente, além das margens das rodovias (que provocam sérios acidentes),nos bairros da cidade.
    Abraços,
    Célia Medeiros

    ResponderExcluir