sábado, 21 de março de 2009

Branquinha e o Sapo Encantado



Como faz todo domingo
Branquinha acordou cedo
Adiantou o serviço
De trabalho, não tem medo
Arrumou-se e foi pra missa
Devoção não tem segredo.

Foi uma bela cerimônia
O padre tava inspirado
Caprichou no seu sermão
Sem deixar fiel cansado
Tudo tava uma perfeição:
Que domingo abençoado!

Mas foi a missa, findar
E a graça acabou
Foi saindo da igreja
Aí, o bicho pegou
Deu de cara com um sapo
Seu domingo desgraçou.

O sapo olhou pra ela
E disse: - Não tem saída
Ela se pôs a tremer
- Vou dar fim a sua vida
Não adianta correr
Sou muito bom de corrida.

Foi quando tentou gritar
Mas sua voz não saiu
Esperneou, fez de tudo
E ninguém, sequer, lhe viu
Só um “véi” que ia passando
Foi quem, a ela, acudiu.

O velho tomou a frente
E disse: - Deixe comigo
Já enfrentei cascavel,
Nunca temi o perigo,
Vou dar um chute no bicho,
Para sapo, eu não ligo.

O tinhoso abriu a boca
E deu um bote no pé
Lançando a sua língua
Ôhhh, sapo que era agé!
Só não engoliu o “véi”
Por causa do seu chulé.

Então, ele se soltou
Caindo fora da fria
Disse: - Meu Deus, obrigado
Abenção, Virgem Maria
Esse bicho é o sapirico
Nessa eu quase morria.

Aí, Branca ficou só
Com esse troço medonho
Enquanto ele cuspia
Viu que não era um sonho
Pensou: “Se eu não correr,
Não me livro do demônio”.

Fez frecheiro e arredou
Em busca da sua casa
Pela rua da matriz
Não voou por não ter asa
Nisso ele acompanhou
Maldição nunca se atrasa.

Em disparada, gritou,
No meio do rebuliço:
- Esse troço é encantado
Valei-me meu Padin Ciço
Me acuda, por favor,
Livre-me desse feitiço.

Já ‘tava perto da praça
Bem no centro da cidade
Passou por um pescador
Um senhor, de meia idade
Que retornava da pesca
Acredite, é verdade.

Esse sujeito andava
Cheio de peixe, na embira
Tilápia, tucunaré,
Curimatã e traíra
Eu não sei se foi milagre
Acho que a reza servira.

A traíra debateu-se
Quando passou pelo sapo
Estribuchou na embira
Dando um grande supapo
Se soltou e deu um bote
Passando o bicho no papo.

Livrou-se da maldição
Desse bicho desalmado
Acudida por um peixe
Ou um heroi escamado?
Que a salvou por acaso
Ou foi um anjo enviado?

Até hoje a menina
Em sinal de gratidão
Não bota peixe na boca
Lembrando do guardião
Agradece a “Padin Ciço”
Em prova de devoção. *

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

(*) Poema publicado no blog Acari do Meu Amor, em 06/01/2009.
http://acaridomeuamor.nafoto.net/photo20090105232609.html

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