O morto dentro "das calça"
Não trabalha nem estuda
Tem uma preguiça aguda
Com o suor não realça
É uma pessoa falsa
Só tem três ocupações
Dorme, faz as refeições
E fala da vida alheia
Nas esquinas se apeia
Pra proferir maldições
Não viaja, nem trabalha
Não arrisca, nem petisca
Não sei como o olho pisca
Não chora e nem gargalha
Não acerta e não falha
De tudo é dependente
Não faz nada, no presente
Mais parece um morto vivo
Distúrbio conceptivo
A planta que nasceu gente
Uma entidade inerte
Num corpo de ser humano
Com saúde, mas sem plano
Sem lei áurea que liberte
Não tem nada que desperte
Quem de si fez um aborto
Se tornando um peso morto
Nas costas do genitor
Fez um canguru, do avô
Não quer sair do conforto
Aposentado na infância
Sem nunca ter trabalhado
Sempre sendo agasalhado
Dos pais, nunca quis distância
Tem na vida uma ganância:
Receber tudo na mão
Sem ter que ganhar o pão
O sossego é o seu mundo:
Vá trabalhar, vagabundo!
Criatura sem ação
Quem não arrisca na vida
Nunca vai se machucar
Nem vai aprender a andar
Se a vontade é contida
Existência adormecida
Sem sofrer um arranhão
Sem nenhuma emoção
Um inerte vegetal
Esse pobre animal
Desertou da criação
Podia ter produzido
Podia mudar o mundo
Um ser humano fecundo
Bem que podia ter sido
Mas não tendo ainda morrido
Pode iniciar agora
Começando, sem demora
Nova vida de labuta
Com nobreza revoluta:
Um trabalhador aflora
(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)
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